Horacio Cartes volta ao poder no Paraguai após Peña assumir a presidência, gerando incertezas sobre o futuro do país.

Na última terça-feira (15), a capital do Paraguai, Assunção, estava em festa para receber o recém-empossado presidente Santiago Peña. As ruas do centro histórico estavam decoradas com bandeirinhas e luzes nas cores do país, criando um ambiente festivo e alegre.

Enquanto Peña fazia o seu juramento, os jovens aproveitavam para desfrutar das barraquinhas montadas nas esquinas, comprando e consumindo drinques e se preparando para uma longa noite de comemoração. A festa se estendeu até altas horas da madrugada.

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Com um discurso firme e habilidade retórica, Peña conseguiu convencer os presentes de que aquele momento marcaria o início do “ressurgimento de um gigante”, fazendo referências ao renascimento do Paraguai após a devastação causada pela Guerra da Tríplice Aliança.

No entanto, a posse de Peña também representa o ressurgimento de outro gigante, que pode não ser positivo para o país. Estamos falando do ex-presidente Horacio Cartes, um dos homens mais poderosos e ricos do Paraguai, e padrinho da campanha de Peña, que foi seu ex-ministro da Economia.

A sociedade em geral e a oposição se perguntam qual será a influência de Cartes no atual governo. Durante o seu mandato, Cartes dividiu o Partido Colorado, recebendo apoio dos jovens políticos ligados ao mundo empresarial, enquanto a velha guarda do partido discordava da forma como ele geria o país como um negócio. Essa divisão levou à derrota de Cartes na eleição de 2018, quando a velha guarda elegeu Mario Abdo Benítez.

Agora, com o fim do mandato de Benítez, Cartes retorna com ainda mais poder. Os parlamentares de sua divisão, chamada Honor Colorado, dominam o Congresso, o que significa que o novo presidente precisará do apoio de Cartes para avançar com suas reformas, correndo o risco de se tornar uma marionete. Isso já ficou evidente na escolha dos ministérios, pois Peña não teve liberdade para nomear seu gabinete como desejava e teve que desconvidar algumas pessoas de cargos importantes, pois Cartes vetou essas indicações.

No entanto, as ambições de Cartes vão além de influenciar o governo. Ele busca proteção da Justiça paraguaia e americana devido a denúncias relacionadas ao narcotráfico e por ter sido considerado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos uma pessoa “significativamente corrupta”. Além disso, Cartes enfrenta acusações de evasão de divisas através de bancos controlados por sua família, contrabando de cigarros piratas (ele é dono da principal empresa de tabaco do país) e conivência com a entrada de facções criminosas no Paraguai.

Embora a atuação da Justiça paraguaia contra Cartes seja limitada enquanto Peña for presidente, a situação pode ser diferente em outros países. O Brasil chegou a emitir uma ordem de prisão contra ele em 2019 por suposto envolvimento na Operação Lava Jato, porém o ex-presidente conseguiu um habeas corpus.

Outro objetivo de Cartes é garantir que as medidas do governo continuem beneficiando seus negócios. Como acionista de 25 empresas, seus interesses vão além do setor de tabaco e bancário, abrangendo também supermercados, construção e medicamentos.

Durante a posse de Peña, chamou a atenção a presença de dois grupos distintos de convidados. Na primeira fileira, estavam líderes de vários países, como Chile, Brasil, Argentina, Uruguai e Espanha. Já na fileira onde estava Cartes, estavam seus amigos, incluindo os ex-presidentes do Chile e da Argentina. Essa discrepância chama a atenção para a necessidade de Peña estabelecer limites e governar sem interferências. Não seria bom para o Mercosul e para a região em geral ter um presidente manipulado por um ex-líder alvo de acusações.

A expectativa é que Peña consiga exercer seu mandato de forma independente, sem se deixar influenciar pelo poder e interesses de Cartes. Resta acompanhar os próximos passos do governo e verificar se o presidente conseguirá se manter firme diante dos desafios que se apresentam.

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