Líder indígena nos Diálogos Amazônicos exige fim dos assassinatos: “Parem de nos matar”, clama em meio à luta pela preservação.

No evento de abertura dos Diálogos Amazônicos, em Belém, o modelo de desenvolvimento prevalente na região amazônica foi duramente criticado. A presidente da Federação dos Povos Indígenas do Pará, Concita Sompre, defendeu que “o crescimento do país e da humanidade não pode estar acima da vida”. A cerimônia ocorreu nesta sexta-feira (4) e contou com a presença de entidades e líderes da sociedade civil, que buscam produzir propostas a serem apresentadas aos chefes de Estado da Cúpula da Amazônia, nos dias 7 a 9 de agosto, também em Belém.

Concita Sompre denunciou a violência sofrida pelos povos indígenas, como a do agronegócio, das grandes mineradoras e a invasão de seus territórios para a criação de gado. Ela destacou que a região onde vive é “esfacelada pelos grandes empreendimentos” e que os indígenas, antes donos do espaço, hoje são considerados invasores.

A líder indígena pediu a revisão do modelo de desenvolvimento que prevalece na região, denunciando que o minério extraído da terra indígena enriquece outros países, enquanto deixa fome e miséria nos territórios indígenas. Concita Sompre exclamou: “Parem de nos matar”.

Durante seu discurso na língua caiapó, o líder Raoni Metuktire, reconhecido internacionalmente, alertou para a ameaça das mudanças climáticas a todo o mundo. Ele afirmou que continuará pedindo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a demarcação das terras indígenas ainda não demarcadas e ressaltou a hostilidade que os indígenas enfrentam, já que “pouca gente ajuda a gente, a maioria é contra nós, indígenas”.

Representando a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Kleber Karipuna destacou a importância de se chegar a propostas concretas nos Diálogos Amazônicos e pediu pelo fim da era do desmatamento. Ele ressaltou a necessidade de evitar um ponto de não retorno, no qual a floresta amazônica não será capaz de se regenerar naturalmente.

Além das organizações brasileiras, entidades e organizações de outros países, como Bolívia, Colômbia, Guiana, Peru, Equador, Venezuela e Suriname, participarão do encontro. Ana Felicien, representante da Venezuela, ressaltou que o evento proporcionará visibilidade para os movimentos populares em seu país, em meio à pior crise histórica enfrentada. Ela acredita que os Diálogos Amazônicos permitirão reforçar o diálogo e a compreensão de que um mundo mais justo e saudável é possível.

Outro tema abordado na cerimônia foi o Projeto de Lei (PL 490/07), que institui a tese do Marco Temporal no Brasil. O representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Kleber Karipuna, criticou a proposta, argumentando que não existe marco temporal, pois os indígenas estavam vivendo na região antes da promulgação da Constituição de 1988. O projeto de lei, aprovado na Câmara dos Deputados em maio, está em tramitação no Senado.

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