Censo revela disparidades na ocupação territorial entre diferentes comunidades indígenas em todo o país.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta segunda-feira (7) os primeiros dados do Censo 2022 sobre a população indígena do Brasil. Uma das constatações do levantamento é que mais da metade dessas pessoas, 51,25%, vive na região da Amazônia Legal, que inclui a região norte, Mato Grosso e parte do Maranhão.

Por outro lado, 48,75% dos indígenas, quase metade da população, vive em outras áreas do país. Essa é uma revelação importante, pois contradiz a ideia equivocada de que os povos indígenas estão restritos apenas à região amazônica. O antropólogo Spensy Pimentel, professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e autor do livro “O índio que mora na nossa cabeça – sobre as dificuldades para entender os povos indígenas”, destaca que essa descoberta reforça o que os movimentos indígenas vêm alertando há anos.

Um dado interessante é que o estado da Bahia concentra a segunda maior população indígena do país, com 229,1 mil pessoas. Isso representa 13,5% do total de indígenas no Brasil. Além disso, a Bahia registrou o maior crescimento desse segmento populacional entre todas as unidades da federação, com um aumento de 281%.

No entanto, é importante ressaltar que persistem desigualdades no acesso aos direitos por parte dessas populações. Enquanto mais de 98% das terras indígenas do país estão na Amazônia, onde vive pouco mais da metade dos indígenas, no restante do país, onde está quase metade da população indígena, essas comunidades contam com apenas 1,5% das terras. Muitas vezes, essas populações vivem em áreas urbanas ou reservas superlotadas. O antropólogo destaca a necessidade urgente de resolver o déficit na demarcação das terras indígenas, envolvendo povos como os guarani, os terena e os pataxó.

O problema da morosidade na demarcação de terras indígenas no Centro-Sul e no Nordeste é histórico e agrava a vulnerabilidade desses povos. Povos como os guarani-kaiowá, do Mato Grosso do Sul, e os avá guarani, do Paraná, enfrentam uma verdadeira crise humanitária há décadas, com altos índices de violência e problemas sociais. A falta de representação política adequada também é uma questão a ser enfrentada. Spensy Pimentel destaca que, em estados como o Amazonas e Roraima, onde os indígenas representam mais de 10% da população, não há garantia de representação política nas Assembleias Legislativas ou Câmaras de Vereadores.

Os dados do Censo são fundamentais para aprimorar as políticas públicas voltadas aos povos indígenas e para buscar soluções que garantam seus direitos e sua participação política.

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