Friedkin foi um sucesso explosivo com ‘O Exorcista’, mas enfrentou obstáculos para continuar sua carreira em Hollywood.

Era a noite de 10 de abril de 1972, logo após a entrega do Oscar. Pelas avenidas largas de Los Angeles, três limousines cruzavam juntas a cidade levando um diretor de cinema cada uma. Alcoolizados, os passageiros —William Friedkin, Peter Bogdanovich e Francis Ford Coppola— berravam pelas janelas que eram os reis do mundo.

De forma épica, essa cena retratada no livro “Como a Geração Sexo, Drogas e Rock ‘n’ Roll Salvou Hollywood”, de Peter Biskind, ilustra perfeitamente o estatuto que Friedkin alcançou precocemente em sua carreira.

Aos 38 anos, o diretor falecido nesta segunda-feira (7) consolidou uma nova geração de cineastas, conhecida como a Nova Hollywood, através de suas inovadoras e populares obras cinematográficas.

No entanto, como muitos nomes daquela época, Friedkin foi rapidamente dispensado pelos mesmos executivos que financiaram seus maiores sucessos comerciais.

Parte disso se deve às circunstâncias, especialmente o surgimento dos blockbusters — algo que o diretor experimentou de perto. Seu thriller “O Comboio do Medo”, lançado logo após o sucesso de “O Exorcista”, estreou no mesmo dia que o primeiro filme de “Star Wars” em 1977. A produção de George Lucas acabou ofuscando o adversário.

Friedkin também não facilitou as coisas para si mesmo. Ao longo dos anos e após dois grandes sucessos, ele adquiriu uma reputação de alguém difícil, frequentemente entrando em conflito com produtores e membros da equipe de produção, incluindo o elenco. Sua obstinação era frequentemente considerada como um enorme ego, e sua incapacidade de produzir outro filme de sucesso nas bilheterias como “O Exorcista” lhe custou espaço.

O auge veio com obras como “Parceiros da Noite”. Em 1980, lançado com Al Pacino no auge de sua carreira, o suspense policial gerou protestos de várias comunidades gays que o acusavam de homofobia desde as filmagens.

Friedkin continuou lutando, mesmo que isso significasse desafiar convenções. Ao longo das décadas, o diretor investiu em filmes que iam contra o momento atual. Filmes como “A Árvore da Maldição” (1990), um terror surreal no qual um casal era perseguido por uma ninfa disfarçada de babá, buscando sacrificar seu filho a uma árvore mágica e consciente.

Além disso, filmes como “Jade” (1995) e “Possuídos” (2006) seguiram essa estranha trajetória do cineasta, intercalados com produções mais tradicionais, como um remake de “12 Homens e Uma Sentença” para a TV em 1997, estrelado por Jack Lemmon e George C. Scott.

Seus dois últimos filmes lançados em vida foram grandes provocações à sua maneira. “Killer Joe: Matador de Aluguel”, baseado em uma peça teatral, provocou controvérsias em 2011 ao mostrar Matthew McConaughey obrigando Gina Gershon a fazer atos obscenos com um frango do KFC, simulando sexo oral com o alimento.

“O Diabo e o Padre Amorth” de 2017 gerou constrangimento. Esse documentário sobre o exorcista Gabriele Amorth mostrou Friedkin acompanhando o padre em suas atividades de exorcismo em uma tentativa fracassada de capitalizar sua fama como diretor de “O Exorcista”. No entanto, o resultado mais se assemelhou a um especial de TV medíocre.

Mas Friedkin, contra todas as probabilidades, sempre esteve à frente do seu tempo. Enquanto “Killer Joe” chegou aos cinemas apenas três anos antes de McConaughey ganhar um Oscar por “Clube de Compras Dallas”, em 2014, o mesmo padre Amorth que ele registrou há seis anos se tornou um sucesso de bilheteria este ano com “O Exorcista do Papa”, um filme de terror baseado em suas experiências com Russell Crowe no papel principal.

Além de sua esposa Sherry Lansing e seus dois filhos, o diretor também deixa o filme “The Caine Mutiny Court-Martial”, um drama de tribunal estrelado por Kiefer Sutherland e Jason Clarke. O filme foi selecionado para o próximo Festival de Veneza e oferecia outra chance para Friedkin receber um novo reconhecimento da indústria que ele ajudou a construir, assim como uma sequência de “O Exorcista” prevista para ser lançada em outubro.

Mas mesmo em sua morte, ele partiu cedo demais.

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