No livro, Schneck narra sua experiência de aborto como se estivesse contando para a escritora de autoficção Annie Ernaux, que também escreveu sobre um aborto clandestino. Ernaux disse que procurou avidamente livros que retratassem uma heroína desejando abortar, mas não encontrou nenhum. Schneck, por sua vez, se sentiu traída pelo próprio corpo e expulsada de sua rotina idílica de adolescente. Ela lamenta nunca ter podido conversar sobre sua dor com sua mãe e conclui que o maior de seus traumas foi justamente o silêncio.
Durante o livro, Schneck reflete sobre os traumas que enfrentou ao longo de sua vida, como a morte do pai, a solidão, o casamento e a morte da mãe. Porém, nunca parou de pensar e conversar com o filho que nunca teve. Ela se questiona sobre a presença desse filho em sua vida e se isso teria impedido tanto a realização de seus desejos.
“Dezessete” é um livro sincero, pungente e profundo, que aborda temas como liberdade, feminismo e a dor das escolhas. Schneck mostra a importância de não silenciar e de enfrentar a angústia de ser um ser desejante. A obra nos lembra que a vida é sempre mais complexa do que o que é retratado em hashtags progressistas.