Segundo ministra, indígenas ocultavam sua identidade para evitar consequências fatais.

A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, revelou hoje que indígenas no Brasil negavam sua verdadeira identidade no passado devido ao medo de serem assassinados. Durante uma discussão sobre o aumento da população indígena no Censo Demográfico 2022, Guajajara explicou que o princípio da autodeclaração tem ganhado força entre os indígenas nos últimos anos, o que em parte explica o crescimento indicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“As pessoas não se assumiam porque tinham medo de morrer. Havia ordens para matar indígenas. Durante um período muito difícil, muitos povos indígenas no Nordeste do Brasil negavam sua identidade para evitar a violência”, afirmou a ministra.

O novo levantamento do Censo 2022, divulgado pelo IBGE hoje, contabilizou quase 1,7 milhão de indígenas no país. Esse número é 88,8% maior do que o registrado pelo censo anterior, em 2010.

“O resultado foi muito surpreendente. Talvez seja porque antes não se fazia uma contagem direta ou talvez, como tem sido ao longo de nossa história, os povos indígenas negavam sua própria identidade por medo da violência”, disse Guajajara.

As declarações foram feitas durante a cerimônia de lançamento dos dados em Belém, que contou com a presença das ministras Simone Tebet (Planejamento) e Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação), do prefeito da cidade, Edmilson Rodrigues (PSOL), do presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo, e de representantes indígenas.

O cacique Raoni Metuktire, que também esteve presente, pediu união das autoridades em defesa da floresta e dos recursos ambientais.

Guajajara acredita que as informações do Censo 2022 podem servir como base para políticas públicas. Segundo ela, o levantamento mostra a realidade do Brasil indígena, já que o IBGE conseguiu acessar áreas mais remotas desta vez.

“Esses dados vão ajudar a combater a violência que continua vitimando os povos indígenas em seus territórios e ao redor deles”, disse a ministra.

Ao abordar essa questão, Guajajara também informou que mais duas pessoas indígenas foram baleadas hoje de manhã na região de Tomé-Açu, no Pará. Na sexta-feira passada, outro indígena foi baleado na mesma região.

O IBGE alertou que os dados do Censo 2022 não são inteiramente comparáveis com a versão de 2010, pois houve mudanças na coleta de informações com o objetivo de ampliar a abrangência. Especialistas também sugerem que a autodeclaração dos indígenas possa ter sido influenciada por ações afirmativas.

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