Após a pandemia, mais cidades brasileiras adotam subsídios para empresas de ônibus como medida de auxílio econômico.

A pandemia de Covid-19 impactou diretamente o transporte coletivo, resultando no aumento da quantidade de cidades que estão pagando subsídios para as empresas de ônibus urbanos. Esses subsídios consistem em injeções de dinheiro público quando a tarifa paga pelos passageiros não é suficiente para cobrir os custos do sistema.

De acordo com um estudo divulgado pela CNT (Confederação Nacional dos Transportes) na terça-feira (8), antes da crise sanitária, 25 sistemas de ônibus urbanos recebiam subsídios. Esse número aumentou para 63 até julho de 2023, o que significa um acréscimo de 131 para 163 cidades atendidas.

No período entre fevereiro de 2020 e maio de 2022, foram implementadas 153 ações pontuais de concessão de recursos públicos, com objetivo de diminuir o impacto da pandemia no transporte público e garantir a continuidade do serviço.

De acordo com o estudo, pelo menos 39,1% das empresas entrevistadas afirmaram receber dinheiro do governo. Enquanto isso, 51,15% não contam com subsídios e 9,8% não souberam ou preferiram não responder.

A região Centro-Oeste concentra a maior quantidade de empresas que recebem subsídios, com 66,7% delas obtendo verbas governamentais. O Sudeste e o Sul possuem os menores percentuais, com 36,8% e 26,5%, respectivamente.

O estudo aponta que o aumento do trabalho remoto e híbrido, com modalidades como o home office, resultou na diminuição definitiva do número de viagens. A tarifa de ônibus na cidade de São Paulo, por exemplo, está congelada em R$ 4,40 desde 2020. O subsídio pago pela prefeitura às empresas de ônibus para compensar as perdas causadas pela tarifa e por algumas gratuidades aumentou significativamente no ano passado. De acordo com um relatório anual da SPTrans, estatal responsável pelo transporte público municipal na capital paulista, mais de R$ 5,1 bilhões foram utilizados em 2022, em comparação a pouco mais de R$ 3,4 bilhões no ano anterior (sem ajuste pela inflação).

A Pesquisa CNT Perfil Empresarial 2023 – Transporte Rodoviário Urbano de Passageiros, realizada com o apoio da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), foi conduzida por meio de questionário estruturado em entrevistas por telefone, e-mail e formulário eletrônico, entre 3 de abril e 12 de maio de 2023. Ao final, 174 entrevistas foram validadas.

A margem de erro dos dados é de 5,5 pontos percentuais, com um nível de confiança de 95%.

De acordo com o estudo, atualmente há 1.577 empresas de ônibus urbanos em operação no Brasil, com aproximadamente 107 mil ônibus.

O relatório, que possui 128 páginas, oferece uma análise detalhada da gestão das concessionárias. Ele revela, entre outros dados, que as empresas de grande porte, ou seja, aquelas com mais de cem funcionários, representam 82,2% do total.

Mais da metade das empresas (59,8%) tem origem familiar, e 56,9% delas consideram o reajuste das tarifas como o principal desafio. O estudo também aborda a questão da segurança, relatando que 59,2% das empresas entrevistadas foram vítimas de assaltos no último ano. Além disso, 40,2% sofreram depredações e 20,1% tiveram veículos incendiados nesse mesmo período.

A falta de segurança pública é apontada no estudo como um dos fatores que aumentam os custos do transporte público.

Segundo o documento, 81,6% das concessionárias entrevistadas possuem câmeras no interior dos ônibus. Além disso, 90,2% delas têm veículos que operam sem cobradores (60,5% adotam esse modelo em toda a frota). O relatório destaca que essa é uma tendência adotada por várias cidades nas últimas décadas, impulsionada pela adesão dos passageiros aos pagamentos eletrônicos.

Quanto aos sistemas de pagamento de tarifa, 91,4% das empresas informaram que oferecem opções de bilhetagem eletrônica.

O estudo aponta que a eliminação do cobrador, além de aumentar a segurança operacional, ao desestimular o uso de dinheiro em espécie, também reduz a probabilidade de assaltos e agiliza o processo de embarque e desembarque. No entanto, o atraso é apontado como a maior reclamação dos usuários.

Apesar de gerar cerca de 315 mil empregos diretos, o setor demitiu mais de 90 mil pessoas somente entre 2020 e 2021.

Outro dado relevante é que a maior parte dos ônibus em circulação nas ruas é composta por modelos básicos (34,6%), e a frota possui uma média de mais de sete anos de uso.

Apesar da crescente eletrificação dos veículos nas ruas, 99,89% dos ônibus em operação no país são movidos a diesel. A parcela de ônibus elétricos e híbridos é de apenas 0,04% cada.

De acordo com as empresas, 67,8% delas não utilizam corredores exclusivos —apenas 6,3% operam mais de 20% de sua frota nessas faixas exclusivas para ônibus.

“Esses resultados reforçam a necessidade de implementação de políticas mais abrangentes para priorizar o sistema de transporte público coletivo no Brasil”, afirma o relatório.

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