Mais de 1/5 das mulheres no Brasil realizam exames de rastreamento para detecção precoce do câncer de colo de útero.

Um estudo realizado pela Fundação do Câncer chamado “Um Olhar sobre o Diagnóstico do Câncer do Colo do Útero no Brasil” revelou que cerca de 21,4% das mulheres que fazem o exame citopatológico (conhecido como Papanicolau) estão fora da faixa etária recomendada pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é entre 25 e 64 anos de idade. Esse estudo foi feito com base nos dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) divulgados no ano passado.

O exame Papanicolau, que é utilizado no Brasil para rastrear o câncer do colo do útero, deve ser realizado a cada três anos por mulheres que já tenham iniciado a atividade sexual, homens trans e pessoas não binárias designadas mulher ao nascer. No entanto, a maioria das mulheres faz esse exame antes dos 25 anos, o que é problemático, pois nessa faixa etária há maior prevalência de infecção por HPV, segundo explicou Flávia Corrêa, consultora médica da Fundação do Câncer e colaboradora do estudo.

A pesquisa também revelou que 45,7% das mulheres brasileiras que nunca realizaram o rastreamento do câncer do colo do útero estão na faixa etária de 25 a 34 anos, e esse padrão se repete em todas as regiões do país. No Norte e Centro-Oeste, esses índices são ainda maiores, chegando a 51,5% e 52,9%, respectivamente. Isso reflete nos números de mortalidade, que são mais altos nessas regiões.

Outro problema apontado pelo estudo é a demora na divulgação dos resultados dos exames. Apenas 40% das mulheres que realizaram o exame pelo Sistema Único de Saúde (SUS) receberam o resultado em até 30 dias, enquanto na rede privada esse percentual supera os 90%. Cerca de 10% das mulheres que fizeram o Papanicolau pelo SUS nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Norte nunca tiveram acesso aos resultados dos exames, enquanto na rede privada esse número é de apenas 2%.

A baixa escolaridade é apontada como uma das características das mulheres que não estão em dia ou que nunca fizeram o exame. Além disso, essas mulheres apresentam baixa renda, não são casadas e têm cor negra ou parda. Segundo Flávia Corrêa, há uma conjuntura em que quem mais precisa do exame é quem menos o recebe.

Para melhorar o rastreamento do câncer do colo do útero no Brasil, a Fundação do Câncer orienta que a população feminina siga as recomendações da OMS e do Ministério da Saúde em relação à população-alvo e à periodicidade para realização do Papanicolau. Além disso, sugere a adoção do teste molecular para detecção do HPV, conhecido como teste de DNA-HPV, que é mais sensível e objetivo. Esse teste antecipa em até dez anos o acompanhamento e o tratamento dos casos de câncer.

No entanto, é necessário garantir a adesão às recomendações e promover a capacitação das equipes da atenção primária. Também são necessários mecanismos de gestão que priorizem o teste de acordo com as especificidades recomendadas. Enquanto essas medidas não forem tomadas, haverá dificuldades no diagnóstico precoce e tratamento adequado do câncer do colo do útero no país.

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