Petro restaura papel do Estado no bem-estar cidadão no primeiro ano de governo colombiano.

 

Refletindo a Economia…

Analistas locais em grande parte concordam que a agenda do primeiro ano de governo foi fortemente orientada para a economia. O primeiro grande marco se deu na forma de uma reforma tributária ambiciosa, que resultou em uma maior taxação para grandes fortunas, passando por um esforçado plano de desenvolvimento quatrienal. O plano se caracteriza por aumentar o investimento do governo em setores como educação, saúde, moradia e reforma agrária.

Uma estratégia principal para reforçar a “economia popular” se manifestou com a disponibilização de recursos significativos para micro e pequenos empresários, que historicamente têm enfrentado dificuldades para obter crédito.

Ninguém conseguiu esconder sua surpresa quando tiveram que admitir que os principais indicadores da economia colombiana tiveram um bom desempenho, em particular a inflação (que oscila por volta de 12%) e o desemprego, que conseguiu uma redução significativa e voltou a ser contado em dígitos únicos, situando-se em 9% de acordo com dados oficiais recentes.

Movimentos na Colômbia pró Petro se esforçam para aprovar reformas mesmo enfrentando a resistência dos grandes capitais

As previsões de uma fuga em massa de investimentos estrangeiros e um colapso cambial também não se materializaram. O dólar, que em certo momento disparou, chegando à temida marca dos cinco mil pesos, conseguiu se estabilizar em torno de quatro mil pesos.

Apagando as Chamas

Gustavo Petro herdou um país em chamas, mergulhado em um ciclo de violência sombria advinda da falta de ação dos governos de Juan Manuel Santos e Iván Duque para implementar o acordo de paz assinado em 2016 com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

“Depois de conseguir que as Farc entregassem até a última arma, Santos se dedicou a fazer lobby para obter o Prêmio Nobel e se desviou da implementação do acordo de paz, o que desencadeou novas ondas de violência”, disse o analista político Horacio Duque.

Segundo este especialista, durante o governo de Iván Duque a implementação do acordo de paz foi colocada em suspenso, o que levou ao aumento exponencial de novas forças guerrilheiras, fortalecimento do Exército de Libertação Nacional (ELN) e surgimento amplo de grupos armados ligados ao narcotráfico e mineração ilegal.

Para executar a agenda de mudanças sociais de seu mandato, Petro observou que era imperativo fechar permanentemente os ciclos infinitos de violência e por isso implementou uma estratégia chamada “paz total”.

Entendendo a guerra judicial que afeta Gustavo Petro: um golpe em curso na Colômbia e sua ligação com Duque

A missão de implementar a “paz total” foi designada para Danilo Rueda, um conhecido defensor dos direitos humanos que passou a maior parte de sua vida nas regiões afetadas pela guerra.

Uma Virada Radical na Política Externa

Petro tomou um passo decisivo em política externa ao retomar as relações diplomáticas e comerciais com a Venezuela, país com o qual a Colômbia compartilha 2.200 quilômetros de fronteira, logo após suceder Iván Duque, que passou seus quatro anos de mandato tentando derrubar o presidente Nicolás Maduro.

Essa foi a primeira medida de uma mudança radical na política internacional de um país que por séculos foi considerado “o principal aliado dos Estados Unidos na região”. Sem confronto direto com Washington, Petro inseriu novos temas na agenda internacional da Colômbia, tais como ênfase em questões ambientais e a urgência da transição energética.

Colômbia e nova ordem geopolítica: O ‘golpe suave’ contra Petro pode ter como alvo Lula, Brics e China

Ele reativou a participação do país no Mercosul e assumiu uma liderança regional junto ao Brasil para frear a destruição da Amazônia. Petro também abriu espaço para um debate sobre o fim da chamada “guerra contra as drogas”, com um novo enfoque que inclui a possibilidade de descriminalização do comércio e uso de substâncias atualmente proibidas.

Um Acordo Sem Eco

No entanto, apesar de seus repetidos apelos para a construção de um grande acordo nacional, Petro testemunhou o desmoronamento das frágeis alianças que conseguiu construir nas primeiras semanas de seu mandato, o que tem dificultado a implementação de sua reforma no legislativo.

Reformas na saúde e previdência social estão enfrentando um caminho cheio de obstáculos. “Não estou obcecado em aprovar reformas. Prefiro mudar a relação entre o executivo e o legislativo, que atualmente se baseia em o governo premiar os congressistas que o apoiam transferindo dinheiro público para particulares, o que sempre termina em corrupção”, disse Petro como forma de justificar suas dificuldades para encaixar seu projeto de reforma no congresso.

Em Busca de um Roteirista

O primeiro ano de Petro como presidente foi marcado também por um escândalo midiático envolvendo a detenção de seu filho mais velho, Nicolás. Segundo ele, parte do dinheiro ilegal que ele e sua ex-esposa coletaram e roubaram usando o nome de seu pai, chegou às contas da campanha presidencial “Petro Presidente”.

E assim, Petro caminha por um primeiro ano de presidência repleto de desafios, reformas e, agora, um escândalo que poderia ser roteiro de tragédia grega e possui todos os tons para se tornar um filme de sucesso nas bilheterias colombianas.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo