O Brasil comemora 200 anos do nascimento do poeta Gonçalves Dias, uma figura emblemática da literatura nacional.

No dia 10 de agosto de 2023, celebra-se o bicentenário de nascimento do poeta brasileiro Gonçalves Dias. Este importante marco histórico é destacado pelo professor de literatura brasileira e dramaturgia da Universidade Federal Fluminense (UFF), André Dias, que ressalta o papel de Gonçalves Dias como o poeta que consolidou os preceitos do romantismo no país. Em uma entrevista à Agência Brasil, Dias enfatiza a importância do poeta na construção da identidade nacional brasileira após a Independência do Brasil em 1822.

Nesta época, o Brasil era um país jovem, sem um passado histórico, diferentemente das nações europeias que haviam passado pelo período medieval. Era necessário, então, que intelectuais, escritores e estudiosos articulassem a ideia de uma nacionalidade efetivamente brasileira. Gonçalves Dias, segundo o professor, desempenhou um papel central nesse processo ao consolidar a ideia do romantismo e, por consequência, a noção de nacionalidade brasileira.

Dias reconhece que, hoje em dia, questiona-se a constituição dessa nacionalidade forjada pelos primeiros românticos, levando em consideração a ausência da figura do negro na formação inicial da identidade nacional. No entanto, ele destaca que o papel desempenhado pelos primeiros românticos, especialmente por Gonçalves Dias, ainda é relevante, pois ajudou a estabelecer os fundamentos do romantismo e a construir a ideia de uma literatura genuinamente brasileira.

Do ponto de vista estético, Dias ressalta que a poesia de Gonçalves Dias era esteticamente sofisticada e soube adaptar a formação intelectual que o poeta recebeu em Portugal para a realidade brasileira. Segundo o professor, comemorar os 200 anos de nascimento de Gonçalves Dias significa celebrar um pioneiro não apenas na literatura brasileira, mas também na construção da identidade nacional.

O poeta também desempenhou um papel importante na valorização da figura do indígena na cultura brasileira. Enquanto José de Alencar, em suas obras, retratava o indígena de forma particular, Gonçalves Dias o transformava em um símbolo, retratando-o como uma figura nobre, forte e capaz de enfrentar adversidades. O professor Dias reconhece que a leitura atual pode questionar a grandiosidade atribuída aos indígenas na obra de Gonçalves Dias, mas destaca que o poeta foi um dos primeiros a dar protagonismo às populações indígenas no Brasil.

Além disso, Gonçalves Dias também contribuiu para pensar o Brasil como nação. Sua obra reflete a presença indígena desde sua infância e demonstra uma sensibilidade profunda em relação à história e à imaginação do país. O poeta também era crítico da escravidão, como evidenciado em seu texto “Meditação”. Marco Lucchesi, ex-presidente da Academia Brasileira de Letras e atual titular da Biblioteca Nacional, destaca que Gonçalves Dias criou uma gramática para expressar as sonoridades da língua portuguesa, sendo reconhecido também por sua sensibilidade lírica.

A Academia Maranhense de Letras tem dedicado várias comemorações ao bicentenário do poeta maranhense. Um filme intitulado “Gonçalves Dias por Gonçalves Dias” foi produzido pelo Museu da Memória Audiovisual do Maranhão e pela Dupla Criação, baseado em um texto do acadêmico Sebastião Moreira Duarte e dirigido por Joaquim Haickel.

Gonçalves Dias, que nasceu em 1823, além de poeta, também foi advogado, professor, jornalista, etnógrafo e teatrólogo brasileiro. Ele foi um dos grandes nomes do indianismo literário ao lado de José de Alencar e é conhecido pelos poemas “Canção do Exílio” e “I-Juca-Pirama”. O poeta também realizou pesquisas sobre línguas indígenas e folclore brasileiro.

O bicentenário de Gonçalves Dias é uma oportunidade para relembrar e valorizar a contribuição desse importante poeta para a literatura brasileira e para a construção da identidade nacional. Sua obra continua a ser estudada e apreciada até os dias de hoje, mostrando a relevância e a atualidade de seu legado.

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