Desde a morte de Thiago, as crianças e adolescentes da Cidade de Deus vivem sob tensão e medo. Caio, por exemplo, afirmou que a rua estava movimentada naquela noite, com pessoas voltando para casa após eventos, e não havia necessidade da presença policial naquele momento. Ele também ressaltou que antes não tinha medo de andar nas ruas, mas agora sente receio, pois sente que a polícia não se importa.
A Polícia Militar emitiu uma nota oficial dizendo que “dois homens em uma motocicleta atiraram” contra uma equipe de policiamento, e os policias revidaram, resultando na morte de um adolescente. Segundo a nota, foi apreendida uma pistola 9 mm no local do confronto. No entanto, a corporação deu diferentes versões sobre o incidente, inicialmente publicando nas redes sociais que um criminoso havia ficado ferido e depois afirmando que a motocicleta havia fugido de um cerco policial e os agentes deram ordem de parada antes do confronto. A postagem que criminalizava Thiago foi removida das redes sociais após uma ação judicial da Defensoria Pública.
Diversas crianças e adolescentes compareceram ao enterro de Thiago vestindo o uniforme dos Canelinhas, a escolinha de futebol da comunidade. De acordo com os amigos, Thiago era o mais comunicativo da turma e era considerado um dos melhores jogadores da geração na comunidade. A tristeza pela morte do amigo é visível nos rostos das crianças, como o filho de 9 anos da diarista Ivanete da Silva, que foi fotografado chorando junto ao caixão do amigo e se recusa a sair de casa desde então.
O impacto do incidente também se reflete na saúde de outras crianças, como um dos filhos de Juliane da Silva, mãe de dois amigos de Thiago. A criança passou mal durante o enterro, pois qualquer estresse ou tristeza pode piorar o seu problema de saúde. Além disso, a mãe destaca que os filhos frequentemente mostram para ela notícias falsas nas redes sociais que tentam culpar Thiago, deixando-os indignados e destacando sua inocência.
O fundador da escolinha de futebol Canelinhas, Fabio Ferreira, que nasceu e foi criado na Cidade de Deus, lamenta o fato de que o Estado tira a vida de uma criança em segundos, enquanto o projeto alimenta os sonhos delas há anos. Fabio reuniu os alunos em um treino e conversou sobre o incidente, ressaltando a violência nas favelas, a responsabilidade do Estado e a importância de continuar estudando e praticando esportes.
Durante o treino, as rodas de conversa entre os jovens eram todas sobre Thiago, destacando a covardia do ato e a indignação de que na casa de pessoas ricas esse tipo de situação não aconteceria. Matheus, de 12 anos, ressalta que na Cidade de Deus a polícia pode entrar a qualquer momento, aumentando ainda mais o medo e a insegurança dos moradores.
Assim, a morte de Thiago Menezes Flausino deixou um impacto profundo na comunidade da Cidade de Deus, gerando medo, tristeza e revolta entre crianças e adolescentes. É fundamental que sejam tomadas medidas para garantir a segurança e os direitos dessas crianças, além de investigar e responsabilizar os responsáveis pela morte de Thiago, para que episódios como esse não se repitam.