Eleições argentinas em 2023 são marcadas pela Aporofobia, expressão de ódio aos pobres que se torna protagonista.

Aporofobia, o ódio aos pobres, é um problema antigo que parece não ter fim. Nesse mundo baseado na lógica de dar e receber, aqueles que não têm nada para oferecer são rejeitados e excluídos. É um ataque diário, quase invisível, à dignidade e ao bem-estar das pessoas menos favorecidas.

Nas democracias modernas, a aporofobia invisibiliza uma parte da população sem precisar eliminar seus corpos físicos, pois elimina suas identidades através de discursos de ódio. O ódio aos pobres (aporofobia) não é exclusivo das classes mais altas; a triste realidade é que também está presente em uma parte da classe média, mesmo que não se manifeste explicitamente e essas pessoas não se reconheçam como aporofóbicas. No entanto, é possível perceber esse ódio em alguns insultos e agressões, como “negros de m…” ou “preguiçosos de m…”.

A aporofobia tornou-se tão evidente na Argentina que em 2017, a palavra foi incluída no Dicionário da Língua Espanhola como a palavra do ano. Os pobres são rejeitados ao não receberem ajuda para sair da pobreza e não terem meios de obter um emprego digno além da assistência estatal.

Na Argentina, esse fenômeno pode ser observado nas propostas de campanha para as eleições de 2023. O ultradireitista Javier Milei tem conquistado seguidores com um discurso caracterizado pela exaltação e violência, conquistando a atenção dos jovens e daqueles insatisfeitos com a situação política e econômica do país. Patricia Bullrich, pré-candidata presidencial de uma aliança de direita, segue o mesmo caminho.

Esse ódio aos pobres também se esconde por trás de um suposto “nacionalismo” que repudia estrangeiros pobres, como bolivianos, paraguaios e peruanos. Trata-se de ódio de classe, pois não se odeia americanos, ingleses ou alemães. A classe média argentina odeia os pobres porque eles não são submissos, não se conformam com um sistema explorador e indigno que tentam impor. O dinheiro e o capitalismo não têm sentido se não conferem poder e controle sobre os outros. Quando os pobres têm acesso ao dinheiro, perdem o desespero e a capacidade de serem controlados.

Os meios de comunicação contribuem para o ódio aos pobres ao dar aos aporófobos um discurso moralmente justificável por trás do qual eles escondem seu ódio. Essa situação é agravada pelas propostas dos candidatos de direita que prometem prejudicar os trabalhadores ao liquidar negociações salariais e benefícios, enquanto não dizem nada sobre como lidarão com a dívida monstruosa deixada em 2019 com o Fundo Monetário Internacional.

Os candidatos oficiais enfrentam o desafio de projetar o futuro após estarem no governo por mais de três anos. Muitos veem a falta de resultados como uma oportunidade perdida. Enquanto isso, os diferentes espaços de esquerda estão fragmentados em várias alianças e precisam obter pelo menos 1,5% dos votos para participar das eleições gerais.

A campanha eleitoral é marcada por uma falta de mensagens de esperança e propostas atraentes. Isso contrasta com a aporofobia e com a luta das comunidades indígenas que têm sido silenciadas. Os políticos estão ocupados demais olhando para si mesmos para se preocuparem com as necessidades dessas comunidades.

Nesse contexto, é necessário refletir sobre a aporofobia e criar políticas que promovam a inclusão e o respeito pela dignidade de todas as pessoas, independentemente de sua situação econômica. A Argentina deve superar esse ódio aos pobres e buscar uma sociedade mais igualitária e justa.

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