O programa ‘Vai na Fé’ encerra sua jornada com sucesso, sendo considerado um clássico imediato por representar a essência brasileira na Globo.

O último capítulo da novela “Vai na Fé”, de Rosane Svartman, foi marcado por todos os clichês típicos do gênero. Teve casamento, um vilão maluco que tentou matar o mocinho e sequestrar a heroína, entre outras reviravoltas. No entanto, o desfecho pouco modificou a trajetória que “Vai na Fé” escreveu na história das novelas da Globo. Com 179 capítulos, a trama se tornou um clássico instantâneo, principalmente pela sua representação do Brasil atual.

Desde o início, a produção foi uma experiência curiosa para a emissora, já que buscou alcançar um público com o qual não estava familiarizada há tempos: os evangélicos, que atualmente representam 31% da população brasileira. “Vai na Fé” retratou esse público, com todas as suas qualidades e defeitos, de forma autêntica e genuína.

A personagem Sol, interpretada pela talentosa Sheron Menezzes, conquistou o público desde o primeiro dia. Ela era afetuosa, forte e extremamente cativante. O mérito vai para o roteiro, mas principalmente para Menezzes, que entregou dedicação e emoção em suas interpretações.

Além disso, a novela trouxe à tona rostos que estavam em ascensão ou que haviam sido esquecidos na Globo nos últimos meses. Samuel de Assis brilhou como o mocinho Ben, enquanto Carolina Dieckmann trouxe complexidade e nuances à personagem Lumiar. José Loreto e Lui Lorenzo também se destacaram com seus talentos como atores e músicos.

O trabalho excepcional de Renata Sorrah como a atriz Wilma Campos também não pode passar despercebido. Foi claro que Rosane Svartman escreveu esse papel como uma homenagem ao seu amor pelas novelas, e Sorrah interpretou sua personagem com maestria.

Entre os novatos, Clara Moneke se destacou como a espivetada Kate, mostrando muito potencial para o futuro e um timing cômico espetacular. Já Bella Campos, que havia feito um bom trabalho em “Pantanal” (2022), mostrou irregularidade em sua interpretação como Jenifer, faltando repertório em algumas cenas.

No entanto, o grande destaque da novela foi Emílio Dantas, que interpretou o diabólico Théo. Ele conseguiu trazer justificativas para um personagem maldito, deplorável, mas com convicções próprias. Sua interpretação visceral o colocou facilmente entre os maiores vilões das novelas do horário das sete, e até mesmo entre os vilões mais marcantes de todas as novelas.

“Vai na Fé” esteve longe de ser perfeita. A direção da Globo foi criticada por cortar beijos lésbicos entre Clara (Regiane Alves) e Helena (Priscila Sztejnman), usando a desculpa de não chocar o público conservador. Isso foi ruim tanto para a novela quanto para a emissora, que teve que justificar essa escolha questionável.

No último mês de exibição, “Vai na Fé” perdeu um pouco do fôlego. A trama do sequestro inventado de Kate e Rafael (Caio Manhete) pareceu ser uma tentativa de preencher tempo. No entanto, mesmo nesse momento mais lento, a novela se destacou em relação ao que normalmente é apresentado nesse período nas tramas.

O grande acerto de “Vai na Fé” foi a representação de atores brasileiros e negros na tela. Sol parecia uma vizinha, Jenifer e Kate pareciam amigas de rua. Era fácil se identificar com esses personagens.

Não é à toa que a novela conquistou uma boa média de 23 pontos em São Paulo e se tornou um fenômeno em capitais como Salvador, Recife e Rio de Janeiro, chegando perto dos 40 pontos durante seus momentos finais. Além disso, a novela também bateu recordes de faturamento e ações publicitárias para o horário das sete.

“Vai na Fé” celebrou o Brasil e o gênero de televisão mais popular no país. Certamente deixará saudades.

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