Periferia paulistana enfrenta carência de recapeamento em programa municipal. Bairros são os mais excluídos da iniciativa.

Bairros periféricos de São Paulo têm menor área recapeada em programa da prefeitura

Bairros das zonas norte, leste e sul de São Paulo estão recebendo menos recapeamento de vias em comparação com outras regiões da cidade. De acordo com dados oficiais, as subprefeituras de Perus, Sapopemba, Cidade Tiradentes, Guaianases e Parelheiros têm menos de 4.000 m² de vias recapeadas cada uma. Enquanto isso, a Mooca lidera o programa, com 482,5 mil m² de obras realizadas até agora.

Outras subprefeituras que se destacam no recapeamento são Santo Amaro, Pirituba, Vila Mariana e Lapa, juntas totalizam 200,3 mil m² de vias recapeadas, representando um terço de toda área recapeada na cidade. Em pouco mais de um ano, a prefeitura renovou 296 trechos de ruas e avenidas.

O programa de recapeamento tem sido foco de propagandas institucionais na TV aberta nos últimos dias. As máquinas em operação são exibidas nas imagens sobrepostas por uma locução que informa os dados dos investimentos realizados.

Neste ano, a administração do prefeito Ricardo Nunes (MDB) previu no orçamento R$ 658,1 milhões para o programa de recapeamento, um aumento de 28,7% em comparação com o orçamento do ano anterior para o mesmo serviço. Em relação ao último ano da gestão anterior do então prefeito Bruno Covas (PSDB), que foi em 2020, o valor é o dobro. Naquele ano, o orçamento para recapeamento foi de R$ 298,7 milhões, em valores corrigidos pela inflação.

Em resposta, a prefeitura informou que os critérios para escolha das vias a serem recapeadas levam em consideração o volume de tráfego, a deterioração do asfalto, a demanda de transporte público, o histórico de conservação e as demandas da população.

É comum as gestões municipais acelerarem obras de recapeamento meses antes das eleições, como é o caso atual. O programa de recapeamento em curso foi anunciado como “o maior da história para a recuperação asfáltica da cidade” e estava previsto para recuperar 100% das vias da cidade, com um orçamento de R$ 1 bilhão. No entanto, o edital do programa enfrentou dificuldades em ser aprovado pelo TCM (Tribunal de Contas do Município) desde o final do ano passado.

Em relação aos critérios utilizados para o recapeamento, o engenheiro João Merighi, especialista em asfaltamento, acredita que a prioridade deve ser garantir a melhoria da acessibilidade para toda a população da cidade, independentemente do volume de tráfego. Ele argumenta que o material utilizado para asfaltar vias com tráfego de ônibus é o mesmo utilizado em ruas com menos veículos, portanto, o tipo de transporte não deveria ser considerado como critério prioritário.

Em relação aos gastos em publicidade, a gestão de Nunes despendeu a maior cifra da prefeitura de São Paulo desde 2010. O atual prefeito gastou R$ 223,7 milhões em propaganda institucional ao longo de 2022. Somados os dois primeiros anos de mandato, o valor chega a R$ 385,2 milhões. Sem uma marca própria, Nunes busca aumentar sua popularidade para a reeleição.

Além do recapeamento, outra prioridade da gestão de Nunes é a entrega de 116 mil residências para a população de baixa renda até o final de 2024. Até agora, apenas 6.291 unidades foram inauguradas. Essa meta estratégica pode ser uma vitrine importante para a gestão, especialmente no pleito em que o principal concorrente, Guilherme Boulos (PSOL), tem a moradia social como bandeira.

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