O Rio de Janeiro registra 16 crianças vítimas de balas neste ano, seis mortes já confirmadas, de acordo com ONG.

Baleada neste último sábado (12) enquanto brincava dentro de sua própria casa, Eloá Passos, de apenas 5 anos, infelizmente entrou para a triste estatística de crianças mortas por disparos de arma de fogo no Rio de Janeiro. De acordo com levantamento realizado pela plataforma Fogo Cruzado, Eloá se tornou a sétima criança vítima desse tipo de violência no estado neste ano.

Ao analisarmos os dados, percebemos que, no total, 16 crianças com até 14 anos foram baleadas no Rio de Janeiro, sendo que 12 delas foram atingidas por balas perdidas. A Fogo Cruzado, juntamente com o jornal A Voz das Comunidades, emitiu uma nota conjunta, afirmando que esse número alarmante deveria ser motivo de mobilização por parte de toda a sociedade. Segundo o comunicado, é absurdo que tantas crianças sejam vítimas da violência armada, e é ainda mais preocupante a falta de esforços por parte das esferas municipal, estadual e federal para interromper essa tragédia, que está custando o futuro da metrópole.

Procurado para comentar sobre o assunto, o governo estadual ainda não respondeu ao pedido de entrevista. No entanto, em nota, informou que vem investindo de forma significativa nas forças de segurança, principalmente em tecnologia e treinamento. Segundo o governo, a atual gestão tem apresentado uma redução histórica nos crimes contra a vida. No acumulado de 2022, foram registrados os menores índices de homicídios dolosos e letalidade violenta em 31 anos, desde o início da série histórica do Instituto de Segurança Pública.

Na última quinta-feira (10), durante um evento com a presença do governador Cláudio Castro, o presidente Luis Inácio Lula da Silva fez críticas à atuação da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Lula cobrou que a polícia saiba distinguir adequadamente quem é um bandido e quem é um cidadão pobre que apenas anda pelas ruas. Ele pediu que as pessoas negras e pobres, que vivem nas periferias, sejam tratadas com respeito.

Infelizmente, a morte de Eloá não é um caso isolado. No domingo anterior, Thiago Flausino, de apenas 13 anos, foi baleado e morto enquanto passeava de moto na Cidade de Deus. Segundo familiares, o tiro que atingiu o garoto foi disparado por um policial militar do Batalhão de Choque. Os parentes também afirmam que o PM teria disparado novamente contra o jovem quando ele já estava ferido e deitado no chão. A Divisão de Homicídios e a própria Polícia Militar estão investigando o caso.

No mesmo dia, na madrugada, um jovem foi morto a tiros por um PM na saída de um baile funk no morro do Santo Amaro, no Catete, zona sul da cidade. A Polícia Civil está apurando todas as circunstâncias da morte de Guilherme Lucas Martins Matias e já apreendeu a arma utilizada pelo policial.

Neste sábado, juntamente com a morte de Eloá, um adolescente de 17 anos também foi baleado e não resistiu aos ferimentos. Segundo a Secretaria de Polícia Militar, equipes do 17º batalhão da PM da Ilha do Governador estavam fazendo patrulhamento na avenida Paranapuã quando tentaram abordar dois homens que estavam em uma motocicleta. Segundo a PM, o ocupante da garupa estava portando uma pistola e teria disparado contra os policiais, que revidaram. O adolescente foi levado em estado grave para o Hospital Municipal Evandro Freire, onde infelizmente chegou já sem vida.

Diante da morte ocorrida durante a ação policial, moradores da comunidade do Dendê realizaram protestos e atearam fogo em pelo menos três ônibus na avenida Paranapuã. Foi durante esse protesto que Eloá foi atingida por uma bala perdida dentro de sua própria casa.

A ONG Rio de Paz divulgou imagens nas redes sociais do quarto onde a menina foi atingida. A organização ressaltou que o lar deveria ser o local mais seguro, mas, infelizmente, isso não foi verdade para Eloá, que foi morta por uma bala perdida na manhã do último sábado.

Roseli Passos, prima de Eloá, desabafou em entrevista ao Voz das Comunidades, dizendo que o próximo domingo, Dia dos Pais, será um dia triste para a família, pois o pai da menina estará enterrando a filha.

A Polícia Militar afirmou que não houve nenhuma operação no interior da comunidade do Dendê e que abriu um procedimento para investigar as circunstâncias dos acontecimentos. Os casos estão sendo apurados por equipes da Polícia Civil, que também terão acesso às imagens gravadas pelas câmeras corporais dos policiais, a fim de auxiliar nas investigações.

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