PL rotula apoiadores do governo como “transdeputados”; 10 ameaçam deixar a legenda.

Deputados do Partido Liberal (PL) que se aliaram ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva planejam sair da legenda alegando perseguição por parte da cúpula do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Esses deputados, conhecidos internamente como “transdeputados”, integram um partido de direita, mas têm dado votos a um governo de esquerda.

O grupo no PL, apelidado de “fazer o L”, é composto por cerca de dez parlamentares que estão traçando planos para deixar a sigla em bloco após a aprovação do Orçamento de 2024. A estratégia se justifica pelo fato de que o deputado Luiz Carlos Motta, do PL de São Paulo, é o relator do Orçamento e, portanto, tem o poder de barrar demandas dos colegas que possam beneficiar suas bases eleitorais.

As divergências entre os dois grupos dentro do PL cresceram após a aprovação da reforma tributária. Um em cada cinco deputados da sigla votou a favor da proposta do governo, mesmo com a ameaça de punição por parte do líder do PL na Câmara, que é contrário ao Executivo.

Um dos primeiros a sofrer as consequências de apoiar o governo foi o deputado Yury do Paredão, do PL do Ceará, que foi expulso do partido após tirar uma foto com o presidente Lula e “fazer o L”. Alguns parlamentares mais radicais comemoraram essa expulsão, enxergando-a como o início de um expurgo na legenda. Para eles, repetir o gesto que marcou o retorno do petista à cena política merece a punição.

A aproximação dos deputados do PL com o governo Lula tem uma explicação lógica: o petista obteve 69,97% dos votos no Ceará nas últimas eleições, enquanto Bolsonaro obteve apenas 30,03%. Nesse contexto, atuar como oposição ao PT no estado seria considerado suicídio político, já que Lula venceu em todos os 184 municípios cearenses.

De acordo com uma reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo”, parlamentares dessa ala mais próxima a Yury relataram perseguição por parte de colegas de partido. Além disso, o deputado Vinicius Gurgel acusou ataques de bolsonaristas da bancada do PL em grupos de WhatsApp.

A liderança da oposição dentro do PL, representada pelo deputado Carlos Jordy, defende que os integrantes desse grupo pró-Lula sejam tratados como “mortos-vivos” no partido. Para ele, a melhor alternativa seria deixá-los sem comissões, sem fundo partidário e sem diretórios, como um morto-vivo no PL. Segundo Jordy, se algum deputado tentar sair do partido, perderá o mandato. No entanto, os “petistas do PL” contam com a expulsão do partido para evitar esse risco.

Outra dificuldade para o PL está na Região Nordeste, onde os parlamentares enfrentam constrangimento em votar contra o governo, já que a região é predominantemente lulista. Além disso, esses deputados alegam que não foram eleitos com os votos da direita.

Caso esses parlamentares saiam do partido, eles perderiam seus mandatos por infidelidade partidária, a menos que tenham a anuência do partido ou apresentem justificativas plausíveis. Uma possível “grave discriminação política pessoal” seria uma justificativa aceita. Segundo o especialista em Direito Eleitoral, Alberto Rollo, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) analisa o contexto de atuação do partido e seus dirigentes em relação ao parlamentar. A exclusão de reuniões de bancada poderia ser um caminho alegado para a troca de partido.

Em síntese, os deputados do PL que apoiam o governo Lula estão planejando deixar o partido e enfrentam desafios políticos e jurídicos para concretizar essa mudança. Embora sejam integrantes de uma legenda de direita, esses parlamentares estão alinhados com as pautas de um governo de esquerda por motivos eleitorais e estratégicos. Resta aguardar para ver como essa disputa interna no PL irá se desenrolar e quais serão as consequências para os envolvidos e para a legenda.

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