Recorde de redução do gelo na Antártida causa alarme entre cientistas.

No Hemisfério Sul, a formação de gelo ao redor da Antártida durante o inverno está em um nível alarmantemente baixo. Esse declínio drástico do gelo marinho levanta preocupações sobre o impacto na regulação das temperaturas do oceano e do ar, na circulação da água oceânica e na preservação de um ecossistema vital para diversas espécies. A situação deste ano é incomum, segundo Ted Scambos, pesquisador sênior da Universidade do Colorado em Boulder e especialista em Antártida no Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo dos Estados Unidos.

O desaparecimento contínuo do gelo marinho no Oceano Antártico pode ter consequências globais graves, pois expõe uma parte maior da camada de gelo do continente ao oceano aberto, facilitando o derretimento e aumentando o nível do mar. Além disso, a falta de gelo significa menos proteção contra os raios solares, que podem elevar a temperatura da água.

De acordo com dados do Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo, no final de junho, o gelo marinho cobria 11,7 milhões de km2 ao redor da Antártida. Esse valor é quase 2,6 milhões de km² menor do que a média esperada em cerca de 40 anos de observações por satélite.

Essa diferença em relação aos anos anteriores é surpreendente, já que o gelo marinho da Antártida tem demorado mais para responder às mudanças climáticas em comparação ao gelo no Oceano Ártico. Em 2022, o gelo marinho no Oceano Antártico também atingiu um recorde de redução, mas a cobertura deste ano é cerca de 1,3 milhões de km² menor.

A cientista Liping Zhang, do Laboratório de Dinâmica de Fluidos Geofísicos da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA, afirma que a baixa extensão do gelo marinho na Antártida em 2023 não tem precedentes no registro por satélite. Essa diminuição recorde pode indicar uma mudança no sistema do gelo marinho para um estado novo e instável, onde eventos extremos se tornam mais comuns.

O gelo marinho ao redor da Antártida é influenciado por vários padrões oceânicos e atmosféricos, e as interações entre essas forças são complexas. Além disso, a queima de combustíveis fósseis pelos humanos contribui para a redução do gelo marinho, adicionando gases do efeito estufa à atmosfera.

Marilyn Raphael, professora de geografia e diretora do Instituto de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Universidade da Califórnia em Los Angeles, afirma que a diminuição contínua do gelo marinho é muito preocupante e não pode ser explicada apenas por variabilidades naturais. Ela e seus colegas têm trabalhado para estender o registro histórico do gelo marinho da Antártida antes da década de 1970, utilizando observações meteorológicas para reconstruir a extensão do gelo marinho em anos anteriores.

Embora os dados sejam limitados, esse registro mais longo mostra mais ciclos de variabilidade natural. Raphael e outros especialistas acreditam que o oceano, que se aquece mais lentamente que a atmosfera e absorve grande parte do calor proveniente da queima de combustíveis fósseis, pode estar atingindo um ponto crítico em que esse calor está afetando o gelo marinho da Antártida.

Neste ano, as temperaturas superficiais do mar quebraram recordes e existem três áreas de água excepcionalmente quentes ao redor da Antártida. Embora outros fatores também possam estar contribuindo para essa situação, essas áreas de aquecimento se alinham com as zonas costeiras onde o gelo marinho tem se formado de maneira anormalmente lenta, de acordo com Scambos.

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