Thelma Krug, ex-vice presidente do IPCC, afirma que América Latina e Brasil são altamente vulneráveis às mudanças climáticas.

Nos últimos três meses, o governo brasileiro tem se dedicado a impulsionar a candidatura da pesquisadora Thelma Krug à presidência do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). Krug, que é matemática de formação e vice-presidente do órgão desde 2015, buscou fortalecer suas chances se reunindo com delegações de mais de dez países nas semanas que antecederam a votação. As expectativas eram grandes, mas em 26 de junho, o cientista britânico Jim Skea foi eleito para o cargo, superando a candidatura da brasileira, da sul-africana Debra Roberts e do belga Jean-Pascal van Ypersele.

Caso tivesse sido eleita, Thelma Krug teria sido a primeira mulher a presidir o IPCC. Em entrevista à BBC News Brasil, ela expressou sua frustração com o resultado, questionando por que sua candidatura não foi suficiente desta vez. Ela afirmou que o IPCC perdeu a oportunidade de ter uma mulher qualificada como presidente, que já tinha experiência como vice-presidente e 21 anos de atuação no órgão.

O IPCC, criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, tem como objetivo fornecer avaliações científicas regulares sobre a mudança do clima e propor opções de adaptação e mitigação para os formuladores de políticas públicas. Thelma Krug, além de vice-presidente do órgão, participou da Força-Tarefa do IPCC sobre gases do efeito estufa por 13 anos.

Ela destacou que o Brasil e a América Latina estão entre as regiões mais vulneráveis à mudança do clima. O país enfrenta diversos desafios, como secas, fortes precipitações, aumento da temperatura média, ondas de calor e ciclones tropicais. No entanto, Krug ressaltou que boa parte da vulnerabilidade se deve a fatores externos, como desigualdade social, pobreza e uso não sustentável de recursos, que agravam a situação.

O IPCC já apontou que eventos climáticos extremos, como aumento da temperatura e do nível do mar, erosão costeira e frequência de secas, estão afetando a América Latina e devem ocorrer com maior frequência no futuro. Essas mudanças têm impactos na saúde humana, agricultura e pesca.

Krug também mencionou as dificuldades do Brasil em cumprir a meta de desmatamento zero até 2030, principalmente devido ao desmanche das agências de fiscalização e ao aumento do crime organizado, como garimpo ilegal. Ela acredita que é possível cumprir essa meta, mas será necessário intensificar as ações de fiscalização em um curto período de tempo.

Questionada sobre a expansão da exploração de petróleo na Amazônia, Krug afirmou que investir em combustíveis fósseis atualmente é contra a ciência. Ela destacou a importância de buscar alternativas mais sustentáveis e ambientalmente amigáveis.

Em relação à crise climática, Krug enfatizou que estamos em um momento preocupante. Dados recentes mostram que muitos dos eventos observados nos últimos anos são sem precedentes, como as maiores concentrações de dióxido de carbono em milhões de anos. O aumento das temperaturas globais e a ocorrência de ondas de calor também são evidências do aquecimento do planeta.

Em resumo, apesar da candidatura de Thelma Krug não ter sido bem-sucedida, a pesquisadora destacou a importância de enfrentarmos a crise climática de forma urgente e efetiva. A vulnerabilidade do Brasil e da América Latina às mudanças climáticas é evidente, e é necessário adotar medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e promover a adaptação às mudanças já em curso.

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