Ex-detento retorna à antiga sede da DOI-Codi para compartilhar traumas e experiências sofridos durante regime ditatorial.

Emílio Ivo Ulrich, ex-membro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), finalmente decidiu compartilhar sua experiência no Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) durante a ditadura militar no Brasil. Após ser perseguido por militares e capturado, Ulrich passou um ano preso, também sendo detido no Departamento de Ordem Política e Social (Dops).

Durante seu tempo no DOI-Codi, Ulrich frequentemente se deparava com o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, do Exército, que perambulava pelo complexo onde inúmeras vítimas tiveram seus direitos sistematicamente violados durante a ditadura. Esses acontecimentos agora estão sendo estudados por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A VPR, organização da qual Ulrich fazia parte, era composta principalmente por estudantes e ex-militares e foi uma das várias grupos criados como reação à ditadura. O perfil dos membros geralmente consistia em dissidentes da Política Operária (Polop) e ex-integrantes do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR).

Para sobreviver, Ulrich assumiu que era comunista, mesmo não sendo, na tentativa de escapar das brutalidades que enfrentava. No entanto, ele foi torturado tanto por afirmar que não era comunista, quanto por dizer que era. Ele processou o Estado por danos morais, e foi um dos poucos ex-presos políticos que ganharam o processo na Justiça.

Após vários anos afastado do DOI-Codi, Ulrich decidiu retornar ao local para colaborar com um projeto de pesquisa realizado por pesquisadores da Unicamp e financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto tem como objetivo preservar a memória do DOI-Codi e servir como um registro histórico e um alerta para o futuro.

Ulrich conta que, à época de sua captura, sua casa foi saqueada pelos militares, que frequentemente roubavam os pertences das vítimas. Ele também relata que as mulheres eram vítimas de abuso sexual no DOI-Codi, e destaca a crueldade de ter a esposa do coronel Ustra, Maria Joseíta Silva Brilhante Ustra, conversando com as presas políticas e argumentando que elas deveriam ter uma postura diferente.

Para superar os traumas, Ulrich participou de um grupo de apoio a vítimas da ditadura, as Clínicas do Testemunho, viabilizadas pelo governo Dilma Rousseff. Agora, ele está lançando um livro intitulado “Tortura sem Fim”, que relata detalhes de sua trajetória.

Em seu poema “Elogio de praça”, escrito em 1970, Ulrich expressou sua observação sobre o Major Ustra, que continuava sua marcha no DOI-Codi, enquanto os prisioneiros eram torturados.

Ulrich reforça que embora a prisão possa passar, a tortura nunca acaba. Sua coragem em compartilhar sua história e colaborar com o projeto de pesquisa visa preservar a memória e garantir que esses eventos sejam lembrados e compreendidos para que nunca se repitam.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo