A popularidade do açaí preocupa a Amazônia, colocando em risco sua preservação e a integridade dos ecossistemas locais.

Sob o sol escaldante do verão amazônico, José Diogo, um morador da comunidade quilombola de Igarapé São João, se apoia em sua habilidade de escalar palmeiras para colher os cachos de frutas pretas do açaí, que é a principal fonte de sustento de sua comunidade. A safra do açaí, que vai de agosto a janeiro, traz um alívio financeiro para esses produtores tradicionais da Amazônia, que se beneficiaram do boom desta fruta nos últimos anos.

A cidade rural de Igarapé São João, localizada no município de Abaetetuba, é um importante polo de produção de açaí no Pará, estado que concentra mais de 90% da produção brasileira dessa fruta. No entanto, mesmo com os benefícios econômicos trazidos pelo aumento da demanda pelo açaí, surgem também preocupações quanto à biodiversidade da floresta tropical.

De acordo com estudos, a expansão da monocultura de açaí vem causando uma perda significativa da biodiversidade em algumas regiões, pois outras espécies são substituídas. Isso acontece quando o número de plantas de açaí por hectare ultrapassa 200, o que resulta na perda de até 60% da diversidade de plantas da região.

Além disso, a perda de espécies vegetais afeta a própria produção de açaí, já que a fruta se torna menos produtiva devido à redução dos polinizadores, como abelhas, formigas e vespas. Outro fator que pode impactar o desenvolvimento dos frutos é o aumento dos períodos de seca, que podem ocorrer devido às mudanças climáticas.

Diante desses desafios, é importante fortalecer as regras de preservação e aumentar a fiscalização para combater a monocultura do açaí. No entanto, é fundamental oferecer incentivos aos produtores para que eles mantenham a floresta em pé e preservem as demais espécies. Um exemplo positivo é o Centro de Referência em Manejo de Açaizais Nativos do Marajó (Manejaí), que capacita os produtores para conciliarem a produção de açaí com a preservação da biodiversidade.

Salomão Santos, líder comunitário de Igarapé São João, reconhece a importância de diversificar a economia da região para evitar dependências excessivas de uma única cultura, como já aconteceu com os ciclos econômicos da cana-de-açúcar e da borracha. Ele ressalta o serviço ambiental prestado pelas comunidades quilombolas, que ajudam na preservação da floresta amazônica.

A comunidade de Igarapé São João é apenas uma das mais de 3.500 comunidades quilombolas existentes no Brasil, que totalizam 1,3 milhão de pessoas. Essas comunidades muitas vezes se sentem invisíveis aos olhos da sociedade, mas desempenham um papel fundamental na preservação ambiental e na promoção da biodiversidade.

Portanto, é necessário reconhecer e apoiar a contribuição dessas comunidades para a sociedade, garantindo que sejam recompensadas pelo trabalho árduo e pela sustentabilidade que promovem. A preservação da floresta amazônica e de suas ricas espécies vegetais depende do equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental.

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