O palco montado no centro da praça contou com a presença de duas mulheres, Ivone Gebara e Maria Valéria Rezende, ambas freiras da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora. Com aproximadamente 80 anos de idade, as religiosas trouxeram ao público suas experiências no campo da educação popular, religiosidade, feminismo e liberdade.
A iniciativa da Companhia do Tijolo de convidar Ivone e Maria Valéria para protagonizar o evento se deve ao fato de ambas também serem educadoras, pensadoras e escritoras renomadas. Karen Menatti, atriz e integrante do grupo teatral, explicou a escolha: “A Ivone conviveu muitos anos com Dom Helder [Câmara], em Recife, e a Maria Valéria com o professor Paulo Freire, quando ele fazia seus projetos de alfabetização de adultos, ela é educadora popular também. A gente queria ouvir o que elas tinham para falar em relação à educação popular, mas também pelo viés da palavra escrita, da palavra falada, das histórias de vida delas que, afinal de contas, é o nosso pensamento também da Companhia do Tijolo, que é aprender a partir do nosso chão, e do chão do outro que está do lado”.
Além de marcar o fim do ciclo de atividades realizadas em celebração ao centenário de Paulo Freire, a aula das freiras também deu início a uma nova etapa para a Companhia do Tijolo. No próximo mês, o grupo estreia uma peça teatral intitulada “O Vôo da Guará Vermelha”, baseada no livro homônimo de Maria Valéria Rezende. A obra conta a história de Rosálio, um pedreiro analfabeto que carrega consigo uma caixa de livros, e Irene, uma prostituta soropositiva que sabe ler e escrever. A peça aborda a educação como um processo de troca de saberes e busca incentivar a transformação social e a justiça.
A aula pública realizada na Praça da República despertou grande interesse da população. Paulo Henrique, desempregado, deixou a fila do restaurante popular para participar do evento e compartilhou suas impressões: “Eu acho que toca na questão muito crucial para o Brasil, não só o Brasil, que é a questão da religião. Se Jesus voltasse hoje, eles matariam Jesus de novo. E esse tipo de coisa parece que é um consenso coletivo de uma resistência”.
Ivone Gebara destacou a importância da experiência de falar sobre educação em um espaço público: “Eu não sei o que captaram, mas pra mim foi interessantíssimo poder falar de educação numa praça pública. É de uma originalidade incrível, me remete aos tempos em que a gente tinha mais segurança de falar nas praças públicas e de discutir coisas políticas”.
A aula pública marcou um momento significativo de reflexão sobre educação, religiosidade e liberdade, trazendo à tona o legado de Paulo Freire e ressaltando a importância da troca de conhecimento e do diálogo em busca de uma sociedade mais justa.
