Massacre de coreanos em Tóquio em 1923 suscita controvérsia na memória coletiva japonesa, mantendo-se como um tema não resolvido.

Há exatamente um século, o Japão cometeu um massacre que ainda hoje não recebeu o devido reconhecimento. Kim Do-im, uma mulher coreana de 86 anos, continua esperando que o Japão assuma a responsabilidade por esse terrível episódio, no qual um de seus tios foi assassinado. Embora desconhecido por muitos coreanos, Kim acredita que seu tio foi morto simplesmente por ser coreano.

Kim expressa sua angústia pela falta de um pedido oficial de desculpas do governo japonês. Ela é filha de migrantes coreanos que chegaram ao Japão há um século e acredita que é hora de o governo se retratar e pedir perdão. Ela lamenta que o massacre tenha sido amplamente escondido pela história, tornando-o desconhecido para muitas pessoas.

O massacre ocorreu em 1º de setembro de 1923, após um terremoto devastador que atingiu a região de Kanto, onde está localizada a capital japonesa, Tóquio. O terremoto resultou em incêndios em larga escala, que espalharam o caos e aumentaram o número de vítimas.

Nesse contexto de pânico e desordem, começaram a circular rumores de que os coreanos estavam aproveitando a situação para roubar, incendiar e matar japoneses, além de planejar um golpe de Estado. Incentivadas pelas autoridades, milícias armadas com lanças de bambu, sabres e barras de gelo foram formadas para caçar os coreanos.

A Coreia era uma colônia japonesa desde 1910 e os migrantes coreanos eram desprezados pela classe operária japonesa, que os via como mão de obra barata. Além disso, os estudantes coreanos em Tóquio eram considerados perigosos pelo governo japonês, por serem vistos como independentistas.

Embora não haja dados precisos sobre o número de vítimas, historiadores estimam que o massacre tenha resultado em milhares de mortes. Depoimentos da época indicam a participação da polícia e do exército no massacre, que durou vários dias. Além dos coreanos, muitos migrantes chineses também foram assassinados nesse período.

Desde então, o governo japonês rejeitou qualquer responsabilidade pelo massacre e até mesmo lançou uma campanha para atribuir os crimes aos coreanos, a fim de justificar os rumores e as consequências trágicas. A imprensa atual e os livros escolares limitam-se a mencionar a ação dos “bandidos” sem questionar a atuação do Estado.

O fato de o governo de Tóquio não reconhecer oficialmente o massacre e tentar apagar a memória desse episódio violento é motivo de preocupação para muitos. Muitos temem que a falta de aprendizado com a história possa levar a erros semelhantes no futuro.

O Japão já foi acusado de revisar seu passado militarista violento na Ásia durante a primeira metade do século XX. No entanto, até hoje, o país não assumiu completamente a responsabilidade por seus atos. É essencial que os governos do Japão e da Coreia do Sul trabalhem juntos para enfrentar o passado e garantir que as atrocidades sejam lembradas para que não sejam repetidas no futuro.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo