Ipea aponta que maiores empregadores não são os beneficiados por desoneração. Grande impacto na economia é questionado.

Um artigo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que os 17 setores beneficiados pela desoneração de contribuições previdenciárias da folha de pagamento não são os que mais empregam no país. A política de desoneração foi criada em 2011 com o objetivo de reduzir os encargos trabalhistas e estimular a contratação de pessoas em setores específicos. No entanto, de acordo com os dados analisados pelo Ipea, esses setores não estão entre os maiores empregadores do país nos últimos 10 anos.

Os setores beneficiados pela desoneração são: calçados, call center, comunicação, confecção/vestuário, construção civil, empresas de construção e obras de infraestrutura, couro, fabricação de veículos e carroçarias, máquinas e equipamentos, proteína animal, têxtil, tecnologia da informação (TI), tecnologia de comunicação (TIC), projeto de circuitos integrados, transporte metroferroviário de passageiros, transporte rodoviário coletivo e transporte rodoviário de cargas.

Segundo o pesquisador Marcos Hecksher, assessor especializado da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e Infraestrutura do Ipea, o estudo utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que abrange informações de 87 setores responsáveis pela ocupação de 98 milhões de pessoas. Os sete principais setores que mais empregam no país são: comércio (exceto veículos automotores e motocicletas), agricultura, pecuária, caça e serviços relacionados, educação, serviços domésticos, administração pública, defesa e seguridade social, atividades de atenção à saúde humana e alimentação. Nenhum desses setores faz parte dos beneficiados pela desoneração na folha de pagamento.

O estudo também apontou que, entre 2012 e 2022, 47 dos 87 setores analisados abriram mais vagas do que fecharam, gerando um saldo de 13 milhões de postos de trabalho. A maior parte desse aumento veio de setores como atividades de atenção à saúde humana, comércio (exceto veículos automotores e motocicletas), alimentação e educação. Os setores beneficiados pela desoneração não aparecem entre os que mais empregaram nesse período.

Além disso, o artigo do Ipea constatou que, em 2022, 54,9% dos ocupados nos setores desonerados contribuem para a Previdência, número abaixo da média dos trabalhadores brasileiros (63,7%). Enquanto isso, o número de empregos com carteira assinada nos setores beneficiados pela desoneração encolheu em 13% entre 2012 e 2022, enquanto empresas privadas de setores não beneficiados aumentaram em 6,3% o número de empregos com carteira.

A prorrogação da desoneração na folha de pagamento está em tramitação no Congresso, com a aprovação do Projeto de Lei 334/23 pela Câmara dos Deputados. A relatora do projeto, deputada Any Ortiz, argumentou que os setores beneficiados são os que mais empregam no país e que a não prorrogação da política de desoneração poderia resultar em milhões de demissões. No entanto, o deputado Tarcísio Motta, contrário ao projeto, questionou se a desoneração realmente gera mais empregos ou apenas aumenta a margem de lucro das empresas.

A renúncia fiscal com a desoneração no setor privado é estimada em cerca de R$ 9,4 bilhões, de acordo com o Ministério da Fazenda. A discussão sobre a prorrogação da desoneração passa pela análise dos impactos na geração de empregos e na arrecadação da Previdência, além de questões relacionadas à eficiência e equidade da tributação.

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