Apesar de o número absoluto de acidentes relacionados ao abuso de álcool ser significativamente maior do que aqueles relacionados à maconha, os pesquisadores afirmam que essa tendência é preocupante. Segundo o autor principal do estudo, Daniel Myran, “nossas descobertas destacam um aumento preocupante no envolvimento da cannabis em visitas de emergência causadas por acidentes de trânsito ao longo do tempo, com picos ainda mais acentuados após as fases de legalização e comercialização. O envolvimento do álcool nas visitas ao pronto-socorro por lesões no trânsito não aumentou durante o período do estudo, o que sugere que a legalização da cannabis desempenhou um papel importante no aumento das taxas”.
O uso recreativo da maconha foi legalizado no Canadá em 2018, e logo após a legalização, houve um aumento de 94% nos acidentes graves de trânsito. Com o aumento da comercialização e a maconha se tornando mais facilmente disponível, as visitas ao pronto-socorro aumentaram em 233% em comparação com o período anterior à legalização.
Além disso, os resultados do estudo mostraram que os acidentes de carro envolvendo motoristas sob efeito de maconha foram graves. Quase 90% das vítimas desses acidentes chegaram ao hospital de ambulância, enquanto esse número caiu para 40% quando não havia álcool ou cannabis envolvidos. Quase 50% dos usuários de maconha envolvidos em acidentes de carro necessitaram de internação hospitalar, em comparação com pouco mais de 6% daqueles que não fizeram uso da substância.
Os acidentes envolvendo motoristas drogados também resultaram em mais internações em terapia intensiva, com quase 22% desses casos necessitando de cuidados intensivos, em comparação com menos de 2% dos acidentes sem envolvimento de álcool ou cannabis.
É importante ressaltar que os resultados do estudo foram publicados na revista científica JAMA Network Open, mas os autores alertam que ainda é muito cedo para compreender totalmente o impacto da legalização da maconha na segurança rodoviária. Isso se deve, em parte, ao enorme declínio na condução e na mobilidade durante a pandemia, que coincidiu com grande parte do período de legalização.
Esses dados levantam questões importantes sobre a necessidade de regulamentações mais rígidas para o uso da maconha no trânsito, além de destacar a importância de campanhas de conscientização e educação sobre os riscos de dirigir sob a influência de substâncias psicoativas. O estudo ressalta a necessidade contínua de pesquisas e monitoramento para melhor entender os efeitos da legalização da cannabis na segurança viária.
