Historiador afirma que independência resultou na formação de uma nação cujas bases foram estabelecidas pela prática da escravidão.

A Independência do Brasil em relação a Portugal, em 1822, foi um evento marcante na história do país, mas segundo o historiador Rafael Domingos Oliveira, essa independência foi construída sobre um pacto de manutenção da escravidão. A nação nasceu “fundada na escravidão”, como explica Oliveira, pois a integridade do território dependia da defesa dos interesses da classe senhorial, que tinham sua produção movida pela mão de obra escravizada. Esse modelo de produção baseado na exploração da população escravizada estava profundamente enraizado na formação do Brasil como país independente.

No entanto, mesmo após a abolição da escravidão em 1888, o fim da monarquia em 1889 não trouxe necessariamente melhorias nas condições de vida das pessoas negras. Outros pactos das classes senhoriais e da elite continuaram a excluir, escassear e até mesmo genocidar a população negra. A independência, portanto, não foi capaz de gerar mudanças significativas nesse aspecto.

Além disso, a independência também não trouxe benefícios para os povos indígenas, que desde 1500 tiveram seus territórios invadidos pelos europeus. O historiador indígena Casé Angatu destaca que a emancipação do Brasil como nação foi feita por um herdeiro da corte portuguesa que manteve o quadro existente de racismo, genocídio e etnocídio sobre os povos indígenas e a população negra. A desigualdade social e a concentração de terras nas mãos de poucos proprietários também foram mantidas, sem nenhuma reforma agrária.

Diante desse contexto, Angatu afirma que a verdadeira independência ainda está para ser feita. Ele defende a ideia de um Estado plurinacional, como ocorreu na Bolívia em 2009, onde a diversidade étnica e cultural é reconhecida e valorizada. No Brasil, é necessário que o Estado perceba que o país é formado por diversos povos e que é preciso garantir os direitos dessas comunidades.

É importante ressaltar que a independência do Brasil também foi marcada por diversas revoltas populares contra a opressão da colonização. Essas lutas evidenciam a importância da participação popular e dos projetos que se esboçavam nesse período, mesmo que tenham sido suplantados.

Em resumo, a independência do Brasil não trouxe uma verdadeira mudança na situação da população negra e dos povos indígenas. A nação nasceu sob o domínio da escravidão e manteve a desigualdade social e a concentração de terras nas mãos de poucos. A verdadeira independência só será alcançada quando houver o reconhecimento e a valorização da diversidade étnica e cultural do país.

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