No entanto, mesmo após a abolição da escravidão em 1888, o fim da monarquia em 1889 não trouxe necessariamente melhorias nas condições de vida das pessoas negras. Outros pactos das classes senhoriais e da elite continuaram a excluir, escassear e até mesmo genocidar a população negra. A independência, portanto, não foi capaz de gerar mudanças significativas nesse aspecto.
Além disso, a independência também não trouxe benefícios para os povos indígenas, que desde 1500 tiveram seus territórios invadidos pelos europeus. O historiador indígena Casé Angatu destaca que a emancipação do Brasil como nação foi feita por um herdeiro da corte portuguesa que manteve o quadro existente de racismo, genocídio e etnocídio sobre os povos indígenas e a população negra. A desigualdade social e a concentração de terras nas mãos de poucos proprietários também foram mantidas, sem nenhuma reforma agrária.
Diante desse contexto, Angatu afirma que a verdadeira independência ainda está para ser feita. Ele defende a ideia de um Estado plurinacional, como ocorreu na Bolívia em 2009, onde a diversidade étnica e cultural é reconhecida e valorizada. No Brasil, é necessário que o Estado perceba que o país é formado por diversos povos e que é preciso garantir os direitos dessas comunidades.
É importante ressaltar que a independência do Brasil também foi marcada por diversas revoltas populares contra a opressão da colonização. Essas lutas evidenciam a importância da participação popular e dos projetos que se esboçavam nesse período, mesmo que tenham sido suplantados.
Em resumo, a independência do Brasil não trouxe uma verdadeira mudança na situação da população negra e dos povos indígenas. A nação nasceu sob o domínio da escravidão e manteve a desigualdade social e a concentração de terras nas mãos de poucos. A verdadeira independência só será alcançada quando houver o reconhecimento e a valorização da diversidade étnica e cultural do país.