Novos projetos jornalísticos trazem a perspectiva afrocentrada para a recontagem da história.

No último dia 8 de janeiro, o Brasil foi palco de um grave ataque à democracia, um evento que, somado a outros acontecimentos recentes nos Estados Unidos, como a invasão ao Capitólio, o assassinato de George Floyd e da mãe Bernadete, e a eleição de presidentes declaradamente racistas, mostra como a história pode ser contada de forma branca e elitista. Para compreender esses fenômenos, é necessário adotar uma perspectiva afrocentrada e olhar para o passado com outros olhos.

Essa é a avaliação de Tiago Rogero, brasileiro, e Nikole Hannah-Jones, estadunidense, que lideram os projetos jornalísticos Projeto Querino e The 1619 Project, respectivamente. Ambos participaram da abertura do 7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, que teve como tema “Educação antirracista: a voz preta na história”.

O The 1619 Project, lançado em 2019, remete ao ano em que a escravidão teve início nos Estados Unidos. Segundo Nikole Hannah-Jones, os negros americanos foram protagonistas das ideias revolucionárias de liberdade, mesmo que os Estados Unidos costumem atribuir a criação da democracia aos brancos. Ela destaca que a escravidão e os Estados Unidos nasceram no mesmo dia.

No Brasil, o Projeto Querino também adota uma perspectiva afrocentrada para recontar o processo de Independência. O nome do projeto faz homenagem ao intelectual Manuel Raimundo Querino, que destacou o papel dos africanos e afrodescendentes na formação do país.

Tiago Rogero ressalta que o apartheid brasileiro não foi instituído por leis, mas está presente na prática social. Ele destaca que a primeira Constituição do Brasil já excluía os negros, mesmo os libertos, da cidadania. Além disso, ressalta que a Constituição foi imposta pelo então imperador Dom Pedro I.

A educação também desempenha um papel importante no combate ao racismo. No Brasil, a Lei 10.639, que inclui o ensino de história e cultura afro-brasileiras nos currículos escolares, completou 20 anos este ano. No entanto, ainda existem muitos desafios a serem enfrentados. Sete em cada dez secretarias municipais de Educação ainda não implementaram a lei, segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Alana e Geledés Instituto da Mulher Negra.

Para Ynaê Lopes, consultora do Projeto Querino, a história do Brasil ainda é majoritariamente branca e essa escolha é reiterada ao longo do tempo pelo Estado Nacional. Ela destaca que a educação tem um papel fundamental na perpetuação do racismo, mas também pode ser uma poderosa ferramenta antirracista.

O 7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, promovido pela Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca), continua até amanhã e aborda temas como ataques às escolas, tecnologia, novo ensino médio e educação midiática. O evento busca discutir o papel da educação na transformação da sociedade e as relações entre o jornalismo e a educação.

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