Pesquisa evidencia impacto negativo dos sistemas alimentares na perpetuação das desigualdades sociais.

Desigualdades de raça, gênero e classe social são responsáveis por diversas violações do direito à alimentação adequada, especialmente entre negros, mulheres, crianças e pessoas de baixa renda. Essa é a conclusão de um estudo realizado entre 2022 e 2023 por cinco pesquisadores e divulgado pela Organização pelo Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequadas (Fian).

O estudo analisou dados pré-pandemia coletados pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além de textos públicos de diversas organizações. A coordenadora do estudo, Veruska Prado, destacou que as desigualdades no acesso, consumo e produção de alimentos são tratadas de forma generalizada e até mesmo naturalizadas.

Segundo Veruska, essas desigualdades são tão presentes na formação do Brasil e no cotidiano dos brasileiros que muitas vezes são consideradas situações impossíveis de serem modificadas. É comum ver pessoas em situação de rua e saber de indivíduos passando fome, mas isso acaba se tornando algo naturalizado.

A pesquisadora ressalta a necessidade de uma abordagem mais específica ao tratar das desigualdades relacionadas ao acesso à alimentação. Todas as organizações da sociedade civil, sejam elas do setor privado, público, movimentos sociais ou academia, abordam o tema, mas de forma generalizada. É fundamental que, dentro desse grupo de pessoas em situação de vulnerabilidade para segurança alimentar, sejam identificados os riscos específicos enfrentados por cada grupo.

Veruska lembra que, mesmo antes da pandemia de covid-19, já havia indicativos de que lares chefiados por mulheres vivenciavam situações de fome e insegurança alimentar. E muitas vezes, para garantir a alimentação das crianças, as mulheres passavam a comer menos. Essa realidade se agravou durante a pandemia, onde muitas famílias enfrentaram dificuldades ainda maiores para acessar alimentos adequados.

Diante desse contexto, é fundamental que as ações para combater a insegurança alimentar sejam mais assertivas e específicas. Não é mais possível tratar as desigualdades de forma generalizada, é preciso identificar e atender às necessidades específicas de cada grupo em situação de vulnerabilidade. Somente assim será possível garantir o direito humano à alimentação adequada para todos.

Em um país com as características do Brasil, marcado por desigualdades profundas e estruturais, é necessário um esforço conjunto de diversos setores da sociedade para combater essas desigualdades e garantir o acesso universal à alimentação adequada e saudável.

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