Novo guia orienta profissionais de saúde na identificação e acolhimento de vítimas do tráfico de pessoas.

O tráfico de pessoas é uma realidade histórica no Brasil desde a chegada dos primeiros navios vindos da África trazendo pessoas escravizadas em seus porões. Mesmo nos dias de hoje, essa prática persiste e se consolida como a terceira indústria criminosa mais lucrativa do mundo, ficando apenas atrás do tráfico de drogas e de armas. Suas finalidades são diversas e incluem exploração sexual comercial, trabalho análogo ao de escravo, adoção ilegal e remoção de órgãos.

Dessa forma, é essencial unir as forças e atuar em rede para combater essa grave violação aos direitos humanos. É nesse contexto que o Guia para desenvolver uma resposta às vítimas de tráfico de pessoas em ambientes de assistência à saúde surge como uma poderosa ferramenta de enfrentamento ao tráfico de pessoas. Lançado no Recife, Pernambuco, a iniciativa da organização HEAL Trafficking tem como proposta estimular a elaboração de protocolos que orientem os profissionais de saúde a identificar, acolher, tratar e encaminhar adequadamente as vítimas de tráfico de pessoas, além de atuar na prevenção desse crime.

O guia, adaptado à realidade brasileira com o apoio de instituições parceiras do Grupo de Trabalho de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas em Pernambuco (GTETP-PE), traz uma série de boxes tratando da estrutura de saúde e assistência social do Recife. Os dados apresentados resultam de um Acordo de Cooperação Técnica entre a Prefeitura da Cidade do Recife e a HEAL Trafficking, através da ONG Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero.

A doutora Hanni Stoklosa, diretora médica da HEAL Trafficking, ressaltou que, de acordo com pesquisas internacionais, 68% das vítimas de tráfico de pessoas buscam atendimento de saúde enquanto ainda estão sendo exploradas. Portanto, os serviços de saúde se tornam locais cruciais para a identificação e o suporte a essas vítimas. Segundo a médica, os profissionais de saúde têm um papel fundamental nessa luta contra o tráfico de pessoas, pois são pessoas em quem as vítimas confiarão.

Originalmente publicado em inglês em 2016, o guia da HEAL Trafficking já é utilizado por profissionais de vários países. A versão adaptada para o Recife e em português foi motivada pelo pioneirismo de Pernambuco nas ações de combate ao tráfico de pessoas e pelo exemplo do Sistema Único de Saúde (SUS), que pode servir de modelo para outras nações.

O guia está disponível para download gratuito e a HEAL Trafficking espera que seja adotado e adaptado para outras cidades do Brasil. Segundo a secretária de Saúde do Recife, Luciana Albuquerque, o documento representa um avanço importante no enfrentamento ao tráfico de pessoas ao orientar os profissionais de saúde sobre como atuar nessa questão.

Além disso, a procuradora do Trabalho e coordenadora regional de Erradicação do Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Débora Tito, destacou o papel da justiça em proteger não apenas as vítimas, mas também os denunciantes de tráfico de pessoas. Já o desembargador do TRT-6, Paulo Alcantara, pretende divulgar o guia junto aos cursos de medicina para que os futuros médicos já saibam como lidar com o tráfico de pessoas.

No evento de lançamento, também estiveram presentes autoridades e representantes de diversas organizações que apoiam a iniciativa. Todos destacaram a importância de unir esforços e disseminar o guia, enfatizando que o tráfico de pessoas é uma questão de saúde pública e um sério desrespeito aos direitos humanos.

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