França se prepara para retirada do Níger, seu último aliado no Sahel, após operação antijihadista de uma década.

A França está se preparando para se retirar do Níger, seu último aliado no Sahel, onde lançou uma operação antijihadista há uma década. Após sair do Mali e de Burkina Faso, o presidente francês Emmanuel Macron anunciou o retorno a Paris de seu embaixador e dos 1.500 militares mobilizados antes do final do ano, após dois meses de confronto com o governo militar no poder.

Essa retirada forçada ocorre após a França ter deixado o Mali e Burkina Faso, onde também resultou um regime militar hostil resultante de golpes de Estado. Além disso, os golpes ocorreram em um contexto de sentimento antifrancês nessas antigas colônias francesas e de influência crescente do grupo paramilitar russo Wagner.

De acordo com o jornal francês Le Monde, “este é o terceiro golpe em menos de dois anos contra a presença de forças militares francesas na África, o revés mais sério para Macron no continente desde sua eleição em 2017”.

Até o golpe de Estado de 26 de julho, que derrubou o presidente Mohamed Bazoum, o Níger era um dos últimos aliados da França no Sahel e a peça-chave de seu novo dispositivo antijihadista na região.

Desde 2013, a França tem enviado tropas ao Mali para ajudar a combater uma insurgência jihadista, uma operação que depois se estendeu a todo o Sahel. No entanto, apesar dos sucessos militares, a democracia retrocedeu em vez de se desenvolver na região.

Para muitos observadores, Paris não quis ver as mudanças em curso. “Há anos que vemos essa onda chegando. A França sentiu que estava perdendo o controle, mas encontrou em negação e estupefação”, disse uma fonte diplomática francesa.

A retirada da França do Níger mostra a diminuição de sua influência e poder na África Ocidental e, de maneira geral, no continente africano. Enquanto atores como a China, Turquia e Rússia estão aumentando sua presença na região, a França foi criticada por suas incoerências.

Embora tenha condenado o golpe no Níger, a França se adaptou ao golpe no Mali em 2020 e se encontrou com Mahamat Idriss Déby Itno, que chegou ao poder no Chade sem um processo constitucional.

“A França não poderia se retirar no momento certo e quis continuar desempenhando o papel de líder”, disse Fahiraman Rodrigue Koné, pesquisador do Instituto de Estudos de Segurança (ISS).

A França, que ainda possui várias bases africanas, foi rapidamente isolada de seus aliados ocidentais por sua política inflexível no Níger. O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, disse que seu país avaliará seus próximos passos em relação à presença militar no Níger após o anúncio da França, defendendo dar uma chance à diplomacia.

A retirada da França do Níger mostra que o princípio da realidade prevaleceu. Os embaixadores franceses estão confinados na embaixada sem imunidade diplomática e com estoques escassos de alimentos e água, enquanto os soldados franceses ficaram sem missão e seu equipamento militar ficou parado.

A França enfrenta agora as consequências da hipermilitarização de sua relação com a África, enquanto a região do Sahel enfrenta crises de segurança, ambientais e comunitárias. Macron tentou mudar o rumo da diplomacia francesa na África, mas num contexto de influência crescente de outras potências, Paris viu sua influência e poder diminuírem na região.

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