Segundo o general, para caracterizar uma tentativa de golpe, seria necessário uma estrutura muito bem montada e uma direção extremamente preparada. Ele argumentou que os atos realizados por alguns manifestantes não tinham essa complexidade e que se tratavam apenas de “curiosos que fazem umas besteiras”. Heleno afirmou que suas ações no GSI durante o governo Bolsonaro não tiveram cunho político-partidário.
No entanto, a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), contestou as declarações do general e afirmou que a comissão possui informações e depoimentos que comprovam a existência de militares, civis e autoridades envolvidos na preparação de um golpe de Estado em 8 de janeiro. Ela destacou o planejamento, a arrecadação de dinheiro, as atividades de lazer no acampamento e o financiamento do transporte dos manifestantes como evidências da ação orquestrada.
Questionado sobre a visita ao acampamento em frente ao Quartel General do Exército, Heleno negou ter participado das atividades realizadas no local. Ele ressaltou que considerava o acampamento uma manifestação política pacífica e que não via a necessidade de sugerir a retirada dos manifestantes, pois não representavam uma ameaça à segurança institucional.
Porém, a senadora Eliziane Gama contestou novamente as declarações do ex-ministro, argumentando que foi do acampamento que partiram os manifestantes que invadiram a Praça dos Três Poderes e praticaram atos de vandalismo. Ela afirmou que o acampamento não era ordeiro e pacífico, como Heleno afirmou anteriormente.
Antes de responder aos questionamentos da relatora, o general fez um pronunciamento em que negou qualquer participação dele ou do GSI nos atos de vandalismo ocorridos em Brasília no ano passado, quando veículos foram incendiados e o prédio da Polícia Federal foi invadido. Ele afirmou que o GSI não foi informado nem participou dessas ações e que soube delas pela televisão, em sua casa.
Ao ser questionado sobre uma possível reunião com os comandantes das Forças Armadas para discutir a possibilidade de um golpe de Estado, o general negou sua participação e classificou a informação como uma fantasia. Ele também negou ter tido acesso a uma minuta de decreto que sugerisse a convocação de novas eleições e a prisão de adversários do então presidente Jair Bolsonaro.
Heleno minimizou a relevância de mensagens golpistas trocadas entre o tenente-coronel Mauro Cid e oficiais do Exército, afirmando que eram apenas fofocas e que não arrastariam uma multidão de generais para dar um golpe. Ele ressaltou que os auxiliares têm um limite de atuação estreito e que é um equívoco acreditar que uma conversa com o tenente-coronel Mauro Cid teria a capacidade de alterar a hierarquia nas Forças Armadas.
Quanto à transição no GSI, o general negou ter dificultado o processo para a entrada do general Marco Edson Gonçalves Dias. Ele afirmou que as portas do GSI foram abertas com transparência total e que o então ministro teve liberdade para estabelecer quem ele queria manter ou trocar na equipe.
O depoimento do general Augusto Heleno foi marcado por discordâncias entre suas declarações e as informações apresentadas pela relatora da CPMI. Enquanto Heleno negou qualquer envolvimento em ações golpistas, Eliziane Gama reforçou que há evidências de planejamento e liderança nas manifestações antidemocráticas ocorridas em Brasília no início do ano. A comissão continuará suas investigações para esclarecer os fatos.