Êxodo de armênios de Nagorno-Karabakh continua após derrota militar e pedido de permanência pelo Azerbaijão.

O êxodo de armênios de Nagorno-Karabakh continua mesmo após o pedido das autoridades do Azerbaijão para que permanecessem no território separatista. Na última segunda-feira, uma explosão em um depósito de combustível resultou na morte de pelo menos 170 pessoas, de acordo com um novo balanço divulgado pela polícia das forças separatistas nesta sexta-feira. O número anteriormente divulgado era de 68 mortos e 100 desaparecidos.

Samvel Hambardsioumián, um homem de 61 anos que esperava no posto para conseguir gasolina, relatou que “havia nove pessoas na minha frente na fila para conseguir combustível. Se não estivessem ali, estaria carbonizado”. Ele está entre os muitos civis que decidiram fugir de Nagorno-Karabakh diante da ofensiva relâmpago lançada pelas forças do Azerbaijão, que levou à rendição dos separatistas armênios em 20 de setembro, resultando em cerca de 600 mortes.

O êxodo dos habitantes armênios de Nagorno-Karabakh, que conta com a maioria da população sendo da etnia armênia e da religião cristã, ocorre em meio ao temor de retaliações por parte do Azerbaijão. Desde o anúncio da autodissolução da República, conhecida pelos armênios como Artsakh, a partir de 1º de janeiro, cerca de 93.000 pessoas, mais de 75% dos 120.000 habitantes do território, abandonaram suas casas.

Os armênios que estão fugindo relatam a “crueldade” do último conflito e o terror que sentem com a chegada dos soldados inimigos. Muitos decidiram queimar seus uniformes, documentos militares e recordações para evitar que fossem sujos pelos azerbaijanos. Segundo Bayram Balci, pesquisador da faculdade francesa de Ciências Políticas, Sciences Po, “ninguém acredita em uma convivência entre as duas comunidades. Nem os armênios nem os azerbaijanos estão preparados para essa opção”.

O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, acusou o Azerbaijão de “limpeza étnica” e alertou que nos próximos dias não haverá mais armênios em Nagorno-Karabakh. Porém, Baku nega a acusação e afirma que os armênios estão saindo “por vontade própria”. O medo dos habitantes foi alimentado pelas “detenções ilegais” entre os civis em fuga, de acordo com informações de Ierevan, capital da Armênia.

Em meio a esse cenário de tensão e incertezas, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, assegura que os direitos dos armênios serão garantidos. No entanto, Zhala Bayramova, advogada especializada em direitos humanos e filha de um opositor preso, afirma que “quando o governo (do Azerbaijão) diz que vai tratar bem os armênios e com dignidade, é totalmente falso”. A situação atual evidencia a dificuldade de convivência entre as duas comunidades e a necessidade de uma abordagem que busque soluções diplomáticas e respeito aos direitos humanos.

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