Ex-presidente do Parlamento canadense renuncia após descoberta de passado nazista de veterano ucraniano no plenário

Na semana passada, um evento no Parlamento canadense se tornou um problema para o primeiro-ministro Justin Trudeau. Durante uma sessão que contava com a presença do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, estava presente também um veterano da Segunda Guerra Mundial, Yaroslav Hunka, de 98 anos, que foi apresentado como alguém que lutou pela independência da Ucrânia contra os russos. No entanto, historiadores apontaram que Hunka fez parte de uma unidade do Exército nazista, a 14ª Divisão de Granadeiros da Waffen SS, formada por ucranianos em 1943. Isso resultou em pedidos de desculpas por parte de Trudeau e de outras lideranças políticas canadenses.

A relação da Ucrânia com a Segunda Guerra Mundial é complexa e controversa. Segundo o professor Angelo Segrillo, especialista em União Soviética, a Ucrânia era um estado multinacional que, no início da guerra, expandiu seu território, incorporando partes da Polônia. Essas áreas eram consideradas perigosas pelo domínio soviético, e muitos anticomunistas se opunham a ele. Naquela época, alguns nacionalistas ucranianos viram a oportunidade de colaborar com a Alemanha nazista para alcançar a independência ou autonomia da Ucrânia, algo que não seria possível sob o domínio soviético.

Um dos líderes desses nacionalistas era Stepan Bandera, considerado um herói na Ucrânia até hoje. Ele defendia a radicalização da luta pela independência, o que incluía o chamado às armas. No entanto, as milícias nacionalistas também estiveram envolvidas em massacres de judeus durante a guerra. Estima-se que até 1,5 milhão de judeus ucranianos tenham sido mortos por nazistas e seus aliados entre 1941 e 1945.

Apesar disso, é importante ressaltar que milhões de ucranianos combateram no Exército Vermelho e muitos deles morreram nos combates. Muitos ucranianos foram reconhecidos como heróis da União Soviética, inclusive em cidades como Kiev e Sebastopol. A ideia de que a simpatia ao nazismo é prevalente na Ucrânia é frequentemente usada como propaganda pela Rússia.

No contexto político atual, a extrema direita na Ucrânia não tem um apoio amplo na sociedade. Nas eleições de 2019, a coalizão formada por partidos extremistas não conseguiu atingir a cláusula de barreira de 5%. Além disso, as visões anti-Rússia não necessariamente convergem para o extremismo. A presença de simbologias nazistas no campo de batalha, como no caso do Batalhão Azov, tem criado problemas para os aliados da Otan.

Portanto, é importante analisar a complexidade da história ucraniana durante a Segunda Guerra Mundial e evitar generalizações sobre o posicionamento político e ideológico do país. A relação com o nazismo é apenas um aspecto dessa história.

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