Juventude tecnológica ditará novo conceito de velhice, afirma gerontólogo em entrevista exclusiva

Os sexagenários, pessoas entre 60 e 69 anos, estão vivenciando um envelhecimento diferente de seus pais e avós. Com o avanço da tecnologia, acesso a serviços e informação, e novos hábitos de saúde, a atual juventude está moldando um novo espírito de sociedade que pode transformar o conceito de velhice no futuro. Essa é a previsão do médico e gerontólogo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil e ex-diretor do Departamento de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo Kalache, o Brasil é um país onde há mais smartphones do que população, e os jovens de hoje terão ocupações que ainda nem foram criadas devido ao avanço tecnológico. Com o aumento da conectividade da juventude, é possível prever uma futura era de “idosos digitais”, que terão mais acesso à informação e conhecimento através de diferentes plataformas.

A expectativa de vida no Brasil aumentou significativamente nas últimas décadas. Atualmente, um bebê que nasce no país tem uma expectativa de vida de pouco mais de 77 anos, enquanto em 1950 não passava dos 50 anos. Esse avanço é considerado uma conquista social incrível, a maior dos últimos 100 anos.

Kalache destaca que é essencial instigar a curiosidade nos jovens, para que eles busquem conhecimentos que os tornem relevantes e atuantes na sociedade em qualquer idade. A aprendizagem contínua é fundamental para se adaptar às rápidas mudanças tecnológicas e sociais.

O especialista também ressalta que existem quatro pilares fundamentais para alcançar uma boa qualidade de vida na velhice. O primeiro é investir na saúde, evitando depender de cuidados médicos intensivos. O segundo é o acúmulo de conhecimento ao longo da vida, para se manter atualizado em uma sociedade em constante transformação. O terceiro é a participação social, combatendo o preconceito contra os idosos e garantindo que tenham direitos e acesso a serviços. Por fim, o último pilar é a proteção dos idosos, assegurando que tenham abrigo, comida e recursos financeiros.

No entanto, mesmo com a perspectiva de uma sociedade cada vez mais longeva, alguns fatores preocupam os estudiosos. Um deles é a baixa taxa de fecundidade. Ao redor do mundo, a média de filhos por mulher tem diminuído significativamente, o que pode resultar em uma diminuição da população no futuro.

No Brasil, a taxa de fecundidade está em apenas 1,6 filhos por mulher, muito abaixo da média global de 2,3 filhos por mulher. Isso significa que o país está enfrentando o desafio de envelhecer em pobreza, já que a grande maioria dos brasileiros com mais de 60 anos vivem em condições precárias.

Apesar do envelhecimento da população trazer desafios, é fundamental que a sociedade esteja preparada para essa transformação demográfica. O Brasil precisa investir em políticas públicas que garantam a qualidade de vida e o bem-estar dos idosos, além de combater o preconceito contra essa faixa etária. Com uma abordagem adequada, é possível construir uma sociedade mais inclusiva e promover o envelhecimento saudável e ativo.

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