Escritor indígena Ailton Krenak é eleito para a Academia Brasileira de Letras em disputa histórica

No dia 5 de agosto, o escritor indígena e ativista ambiental Ailton Krenak foi eleito para ocupar a cadeira de número 5 na Academia Brasileira de Letras (ABL), tornando-se o primeiro indígena a ingressar na instituição. Krenak recebeu 23 votos dos membros da ABL, enquanto a historiadora Mary del Priore obteve 12 votos e o escritor indígena Daniel Munduruku ficou com apenas 4 votos.

A vitória de Krenak representa um marco histórico na representatividade indígena no Brasil. Para o presidente da ABL, Merval Pereira, o escritor possui uma visão de mundo única que se adequa ao momento atual, no qual a preocupação ambiental e a luta pelos direitos dos povos originários estão cada vez mais presentes. Segundo Pereira, as pautas relacionadas à cultura indígena e à valorização da oralidade estão intrinsecamente ligadas à vitória de Krenak na Academia.

Krenak é autor do livro “Futuro Ancestral”, que aborda a preservação dos rios como uma forma de garantir o futuro. O presidente da ABL destacou a importância dessa visão sobre a natureza e a relação harmoniosa entre o homem e o meio ambiente. Os rios existiam antes da chegada dos seres humanos e é preciso reforçar essa percepção por meio de escritores e intelectuais indígenas como Krenak.

A eleição de Krenak foi considerada histórica pela acadêmica Rosiska Darcy. Ela ressaltou que o escritor representa uma parte importante da história do Brasil e não haveria escolha melhor para substituir o grande historiador José Murilo de Carvalho, falecido em agosto deste ano. Darcy expressou sua felicidade com a eleição de Krenak e o reconhecimento de sua contribuição como líder indígena e defensor de direitos.

A data da posse do novo membro da ABL ainda não foi definida, cabendo a Krenak e à Academia acertarem o melhor momento. Ailton Krenak nasceu em 1953 e pertence ao povo Krenak, da região do vale do rio Doce em Minas Gerais. Ele é ativista do movimento socioambiental e defensor dos direitos indígenas, recebendo importantes reconhecimentos, como a comenda da Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República e os títulos de doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Universidade Federal de Juiz de Fora.

Krenak foi responsável por fundar a Aliança dos Povos da Floresta, que reúne comunidades indígenas e ribeirinhas na Amazônia, e contribuiu para a criação da União das Nações Indígenas. Ele também participou da proposta da Unesco que resultou na criação da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço em 2005. O escritor possui uma série de livros publicados, nos quais aborda temas como a pandemia da covid-19, a cultura indígena e o modo de vida indígena em contraponto à sociedade capitalista.

A trajetória e as obras de Ailton Krenak são uma importante contribuição não apenas para a literatura brasileira, mas também para a valorização da cultura indígena e para o debate sobre a preservação do meio ambiente. Sua entrada na ABL representa um avanço na diversidade de vozes e perspectivas dentro da instituição, que se torna mais representativa da pluralidade cultural e étnica do país. Ailton Krenak assume a cadeira de José Murilo de Carvalho, honrando a memória do historiador e levando adiante seu legado de conhecimento e comprometimento com a cultura e a história do Brasil.

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