Repórter Recife – PE – Brasil

Escritor, filósofo e ativista indígena Ailton Krenak é eleito para a Academia Brasileira de Letras, quebrando tradição de exclusão.

O escritor, filósofo e ativista indígena Ailton Krenak foi eleito como o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), tornando-se o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na instituição. Com 23 votos, ele foi eleito na noite de quinta-feira (5) e considera surpreendente sua eleição para uma instituição que resguarda a língua portuguesa.

Em entrevista à Agência Brasil e Rádio Nacional, Krenak comentou que a academia é da língua portuguesa e admiti-lo seria admitir cerca de 200 línguas diferentes. Ele observou que isso não é brincadeira, pois implica traduzir os textos para dezenas de línguas nativas.

O escritor também expressou sua surpresa com a escolha de seu nome para a cadeira da academia. Ele afirmou que ficou muito surpreso com sua admissão em um lugar que historicamente nunca se abriu para a diversidade das culturas dos povos originários. Um fato que confirma sua surpresa é que ele não acompanhou a votação na sede da ABL, pois estava em um táxi quando recebeu a ligação do presidente da academia com a notícia de sua eleição.

Nascido em Minas Gerais, Ailton Krenak é autor de diversas obras, entre elas “Ideias para adiar o fim do mundo”, “A vida não é útil”, “Futuro ancestral” e “Lugares de origem”. Além de escritor, ele também é ativista socioambiental e pelos direitos dos povos indígenas. Uma das marcas de sua trajetória foi o discurso que fez na Assembleia Constituinte, em Brasília, em 1987, onde defendeu os direitos indígenas à cultura e à terra.

O novo imortal avalia que a Constituição brasileira é fundamental para os povos originários e destaca o papel do Supremo Tribunal Federal (STF) para o cumprimento dos direitos garantidos pela lei. Para ele, se não fosse assim, os povos indígenas teriam sido triturados.

Krenak pretende deixar um exemplo para as novas gerações, inspirando outros artistas de origens indígenas. Sua eleição para a ABL é considerada um marco, significando muito mais do que apenas a chegada do primeiro indígena nesse grupo historicamente fechado e dominado por homens brancos.

A ativista e artista visual Daiara Tukano destaca que o escritor é um pensador de Brasil e que sua produção carrega a força da oralidade, trazendo a reflexão sobre o futuro ancestral. Ela espera ver mais representantes de minorias eleitos para a ABL, para que a população brasileira se reconheça de fato.

A eleição desta semana na ABL foi marcada pelo fato de ter dois candidatos representantes de minorias. Além de Krenak, o também indígena Daniel Munduruku concorreu e ficou em terceiro lugar, com quatro votos. A historiadora Mary Del Priore obteve 12 votos.

A posse de Ailton Krenak ainda não está marcada, mas deve ocorrer em 2024, segundo informações da ABL. A cadeira número cinco, que ele ocupará, era anteriormente ocupada por José Murilo de Carvalho, falecido em agosto de 2023.

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