Agentes comunitários de saúde no Nordeste brasileiro enfrentam impacto da violência e da covid-19, revela estudo da Fiocruz Ceará.

Um estudo recente realizado pela Fundação Oswaldo Cruz do Ceará (Fiocruz Ceará) revelou o impacto da violência e da covid-19 nos agentes comunitários de saúde (ACS) do Nordeste brasileiro. O estudo abrangeu quatro capitais (Fortaleza, Recife, João Pessoa e Teresina) e quatro cidades da região (Crato, Barbalha, Juazeiro do Norte e Sobral), com a participação de mais de 20 pesquisadores de cerca de 13 instituições do Brasil e do exterior.

Os resultados preliminares de 2021 mostraram que a violência afetou a saúde mental de 64,7% dos ACS e a saúde física de 41,1%. Em relação à covid-19, o estudo constatou que 77,6% dos ACS trabalharam na linha de frente contra a doença e 83,8% não receberam treinamento específico para lidar com o vírus.

Um dos aspectos alarmantes do estudo foi a constatação de que cerca de 40% dos ACS estão em risco de transtornos mentais comuns, como ansiedade e depressão. O uso de medicamentos para controle desses transtornos atinge entre 15% e 20% dos agentes.

A coordenadora da pesquisa, Anya Vieira Meyer, ressalta que a violência e a covid-19 impactaram de forma significativa as atividades realizadas pelos ACS nas comunidades. As visitas domiciliares, as ações de promoção à saúde nas residências e nas escolas foram reduzidas durante a pandemia.

Em Fortaleza, onde o estudo teve início em 2019 para analisar o impacto da violência e, posteriormente, da covid-19, os dados revelaram que nas comunidades mais vulneráveis a doença afetou de forma mais intensa a atuação dos ACS, que diminuíram suas atividades nessas regiões. Antes da pandemia, 32% dos ACS em Fortaleza apresentavam risco de transtornos mentais comuns, número que saltou para 50% em 2021.

A violência também é um fator preocupante na saúde dos ACS. Das 30 cidades mais violentas do mundo, seis são capitais do Nordeste do Brasil. Essa realidade tem um impacto direto na vida dos agentes que atuam diariamente nas comunidades, enfrentando a violência em seu trabalho diário.

No Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de Saúde destacou o papel essencial dos agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate às endemias. Esses profissionais são fundamentais para a promoção da saúde e prevenção de doenças, além de funcionarem como uma ponte entre as comunidades e as unidades de saúde. Atualmente, o município conta com 7.692 agentes comunitários e 2.810 agentes de endemias.

Diante dos desafios enfrentados pelos ACS, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro pretende ampliar a rede de agentes no próximo ano. A previsão é de contratar mais 400 agentes de saúde, entre agentes de endemias e agentes comunitários.

Os agentes comunitários de saúde desenvolvem vínculos e relações de afeto com as comunidades em que atuam. Essa proximidade facilita a realização de atividades como campanhas de vacinação e orientação da população sobre a importância da saúde. Os agentes se tornam referências e fontes confiáveis de informação para as famílias, contribuindo para a promoção de uma saúde coletiva.

A atenção primária em saúde desempenha um papel crucial na expansão dos direitos à saúde no Sistema Único de Saúde (SUS). Os agentes comunitários de saúde são fundamentais nesse processo, atuando como elo entre as comunidades e as unidades de saúde. Seu trabalho contribui para o aumento da expectativa de vida e para a promoção da saúde da população.

Em meio aos desafios enfrentados pelos ACS, é fundamental reconhecer sua importância e valorizar seu trabalho como profissionais de saúde. A pesquisa realizada pela Fiocruz Ceará traz à tona a necessidade de investimentos e medidas de apoio para garantir a qualidade de vida e o bem-estar desses agentes, que desempenham um papel essencial na saúde coletiva das comunidades em que atuam.

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