Desigualdade racial e salarial persistem no serviço público brasileiro, revela pesquisa da República.org. Negros têm menor representatividade e salários mais baixos que brancos.

A desigualdade racial no serviço público brasileiro é evidente, mostrando que, apesar de mais da metade da população ser negra, os negros são minoria entre os servidores públicos. Além disso, eles enfrentam salários menores em comparação aos brancos. Esse cenário foi revelado por um levantamento realizado pela ONG República.org, que se dedica a melhorar a gestão de pessoas no serviço público.

De acordo com os dados do Sistema Integrado de Administração de Pessoal (Siape) de 2020, apenas 35,09% dos servidores públicos ativos do executivo federal são negros. Essa baixa representatividade se agrava ainda mais em cargos de maior importância e remuneração, como o de direção e assessoramento superior de nível 6 (DAS-6), no qual apenas 14,58% dos ocupantes são negros.

Segundo Vanessa Campagnac, gerente de Dados e Comunicação da República.org, a desigualdade de acesso ao serviço público é refletida no retrato político-social da sociedade brasileira. Existe uma exclusão histórica das pessoas negras e indígenas nos espaços de poder, o que impacta diretamente na baixa presença desses grupos no serviço público.

A desigualdade também é acentuada quando se analisa as carreiras de estado e de gestão. Os brancos ocupam 73% dessas carreiras, enquanto os negros ficam com apenas 23,72%. Segundo Campagnac, os concursos para essas carreiras costumam ter fases mais complexas e contam com cláusulas de barreiras, o que cria obstáculos adicionais para os candidatos negros, como custos com aquisição de material de estudo e deslocamento.

Além da desigualdade racial, há também uma disparidade de gênero no serviço público. Mulheres negras recebem em média um salário 33% menor do que homens brancos. Isso se deve, principalmente, à concentração de pessoas negras em posições com pior remuneração e à baixa presença em cargos de liderança.

A Lei de Cotas (Lei 12.990/2014) tem contribuído para aumentar a presença de negros no serviço público, reservando 20% das vagas em concursos públicos para pretos e pardos. Desde a entrada em vigor da lei, em 2014, houve um crescimento no número de servidores negros, porém ainda insuficiente para garantir a equidade racial.

Atualmente, está em tramitação no Senado o Projeto de Lei 1.958/2021, que propõe a prorrogação da Lei de Cotas por mais dez anos. Além disso, o governo também está considerando aumentar a faixa de reserva de vagas para 30%.

Medidas como essas são fundamentais para combater a desigualdade racial no serviço público. Além disso, a implementação de ações afirmativas nos cargos comissionados e investimentos em preparatórios destinados a pessoas negras podem acelerar a redução dessa desigualdade.

As cotas raciais no serviço público promovem a igualdade e são importantes para a construção de políticas públicas e para o oferecimento de serviços públicos mais representativos e eficientes. A inclusão de pessoas negras em cargos de decisão também pode criar redes de contato mais diversas e atrair mais pessoas negras para essas posições.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo