Número de estudantes cotistas em instituições federais tem a maior queda em uma década, segundo Censo da Educação Superior

A discussão sobre a extensão da Lei de Cotas no Congresso tem levantado preocupações quanto à queda no número de estudantes cotistas que ingressaram em instituições federais nos últimos anos. De acordo com os dados do Censo da Educação Superior, do Inep, houve uma redução de 13% no número de calouros cotistas em 2022, em comparação com o ano anterior.

Essa queda representa a maior redução em uma década e acontece em meio a um aumento no número total de alunos que chegaram ao ensino superior por meio da ampla concorrência. Após duas quedas consecutivas durante a pandemia, em 2020 e 2021, houve um aumento de 9% na quantidade de estudantes admitidos via ampla concorrência.

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O Ministério da Educação (MEC) afirmou que os alunos cotistas são os mais afetados pela pandemia e que está trabalhando para fortalecer mecanismos que promovam a permanência desses estudantes na universidade, como o aumento no valor das bolsas de estudo. No entanto, especialistas apontam outros fatores que podem explicar essa redução.

Uma das razões levantadas é a falta de políticas públicas de permanência na universidade, como moradia, alimentação e ajuda de custo. Segundo Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da USP e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, os jovens estão cada vez mais conscientes de que é necessário garantir condições de permanência na universidade, e não apenas o acesso.

Outro fator apontado é o desalento em relação ao ensino superior por parte dos estudantes, devido à demora no acesso ao mercado de trabalho. Além disso, posicionamentos contrários do governo anterior em relação à política de cotas também podem ter influenciado na queda.

Apesar desse cenário desfavorável, há casos de sucesso em que os cotistas conseguiram ingressar na universidade e transformar suas vidas. É o caso de Francisco de Sousa Junior, morador da periferia do Distrito Federal e portador de deficiência visual, que ingressou no curso de História na Universidade de Brasília (UnB) por meio das vagas reservadas para pessoas com deficiência.

Assim como Sousa Junior, diversas pessoas têm se beneficiado das vagas reservadas para estudantes de escola pública, de baixa renda e étnico-raciais. No entanto, é importante ressaltar que também houve uma queda no número de vagas reservadas no ensino superior, o que evidencia a retração do acesso dos cotistas.

Segundo um levantamento realizado pelo Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (Gemaa), da Uerj, a quantidade de matrículas para os grupos beneficiados pelas cotas teve a segunda maior queda desde 2007. Isso acontece em um contexto de crise orçamentária no ensino superior, o que pode ter impactado na oferta de vagas adicionais para os cotistas.

No geral, as universidades públicas oferecem mais vagas de cotas do que o mínimo previsto na legislação. No entanto, é necessário continuar monitorando a situação para identificar se essa queda no acesso dos cotistas é uma tendência duradoura ou se há possibilidade de reversão.

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