Maior milícia do Rio de Janeiro ataca transporte público e revela problemática crescente na zona oeste do estado.

Na última segunda-feira, a maior milícia do estado do Rio de Janeiro incendiou 35 ônibus e um trem como forma de retaliação pela morte de um dos seus membros. No entanto, esse ataque ao transporte público é apenas a ponta de um problema muito maior enfrentado pelos moradores da região oeste da cidade. De acordo com um morador anônimo entrevistado, a influência das milícias vai muito além da violência nas ruas.

Esse morador relata que no seu dia a dia, ele paga mais caro por itens básicos como água e gás de cozinha, além de ser obrigado a contratar serviços de internet e TV a cabo controlados pelas milícias. Ele também menciona que não pode comprar esses produtos em outros bairros por medo de sofrer violência. A presença das milícias afeta muito a liberdade de ir e vir das pessoas, criando um clima de medo e opressão.

O ataque aos veículos ocorreu em resposta à morte de um membro ligado às milícias, o que chamou a atenção para o crescimento dessas organizações no Rio de Janeiro. Atualmente, cerca de 20% da área metropolitana da cidade é controlada por grupos armados, sendo que metade dessas áreas estão nas mãos das milícias. Esses números são resultado de um crescimento de 387% nas áreas dominadas pelas milícias nos últimos 16 anos.

As milícias são grupos paramilitares formados tanto por servidores públicos da área de segurança quanto por civis. Elas surgiram a partir dos grupos de extermínio nos anos 90 e atualmente têm acordos até mesmo com facções do tráfico de drogas. Além disso, essas organizações possuem proteção e influência tanto dentro das forças de segurança quanto na política.

O professor José Claudio Sousa Alves, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, destaca que o poder das milícias está cada vez mais amplo e influente na estrutura social e geográfica da Zona Oeste da cidade. Ele ressalta a necessidade de políticas públicas que combatam o crime organizado de forma estrutural, indo além do confronto armado. Alves defende a criação de programas de capacitação e geração de renda para os jovens, especialmente nas regiões mais pobres, como forma de evitar que eles sejam cooptados pelo crime organizado.

Diante dos recentes ataques e da influência crescente das milícias, o combate a essas organizações se torna ainda mais desafiador. A relação intrínseca entre as milícias e o Estado dificulta o enfrentamento efetivo desses grupos. É necessário repensar as estratégias de segurança pública e buscar a participação ativa da população na formulação de políticas que combatam a violência e ofereçam perspectivas de uma vida melhor para todos. Apenas assim será possível enfrentar de forma efetiva o problema das milícias no Rio de Janeiro.

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