Corte Interamericana arquiva caso de violação de direitos humanos no Brasil após cumprimento de sentença de 17 anos

A Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) concluiu e arquivou o caso referente à morte de Damião Ximenes Lopes, após entender que o Estado brasileiro cumpriu todas as obrigações determinadas pela sentença proferida há 17 anos pelo tribunal. A resolução de arquivamento foi publicada em setembro deste ano.

Em outubro de 1999, Damião Ximenes foi morto na Casa de Repouso Guararapes, em Sobral (CE), onde estava internado para tratamento psiquiátrico e foi torturado. Na ocasião, o Brasil foi condenado por violações de direitos humanos relacionadas a esse caso.

O país foi obrigado a implantar um curso para formação de profissionais da área de saúde mental, com o objetivo de evitar novas violações semelhantes. Em abril deste ano, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania lançou o curso “Direitos Humanos e Saúde Mental – Curso Permanente Damião Ximenes Lopes”, em parceria com a Escola Nacional de Administração Pública (Enap). Até o momento, mais de 13 mil matrículas foram feitas.

O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, destacou que a condenação levou a mudanças na política de saúde mental no país, como a Lei da Reforma Psiquiátrica, de 2001, que representa um marco na luta antimanicomial. No entanto, ele ressaltou que essa área ainda precisa de atenção e avanço.

A ministra substituta das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha, afirmou que o caso de Damião Ximenes foi o primeiro contra o Estado brasileiro e também a primeira condenação da CIDH por violações de direitos humanos contra pessoas com transtornos mentais. Segundo ela, a jurisprudência do tribunal contribuiu para a superação dos desafios do Brasil na garantia de dignidade e direitos na prestação de serviços de saúde mental.

O presidente da CIDH, juiz Ricardo Pérez Manrique, espera que o Brasil continue a cumprir outras condenações. Até o momento, o país foi sentenciado em 11 casos no tribunal, sendo obrigado a atender 57 medidas de reparação.

O caso de Damião Ximenes ocorreu em 1999, quando o indivíduo foi morto na Casa de Repouso Guararapes, onde estava internado para tratamento de um transtorno mental. As investigações apontaram sinais de violência em seu corpo, mas o óbito foi registrado como “morte natural” e posteriormente como “causa indeterminada”. A irmã de Damião ingressou com uma ação na Comissão Interamericana de Direitos Humanos pedindo investigação e punição dos responsáveis. A Comissão acatou o caso em 2001 e encaminhou para a CIDH em 2004. Em 2006, o governo brasileiro foi condenado a cinco reparações por tortura e maus-tratos, incluindo o pagamento de indenização à família da vítima e a implementação de medidas para evitar casos semelhantes. A Corte entendeu que o Brasil não cumpriu com diligência para a prescrição penal e encerrou a supervisão dessa medida.

Além do caso de Damião Ximenes, outro processo contra o Brasil conhecido como caso Escher, no qual o país foi condenado por uso de grampos ilegais contra associações paranaenses ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), também foi arquivado em 2012.

A expectativa é que o Brasil continue avançando no cumprimento das obrigações determinadas pela CIDH, visto que o direito de acesso à Justiça internacional exige não apenas que uma sentença seja proferida, mas também que seja efetivamente executada no âmbito interno.

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