Repórter Recife – PE – Brasil

Vencedora do Nobel da Paz, Narges Mohammadi é impedida de receber cuidados médicos por não usar hijab no Irã

Autoridades prisionais iranianas impediram a transferência hospitalar da vencedora do Prêmio Nobel da Paz deste ano, Narges Mohammadi, por ela se recusar a usar o hijab, item obrigatório no país. A ativista, de 51 anos, detida na prisão de Evin, em Teerã, recebeu o prêmio em outubro por sua luta contra a opressão das mulheres no Irã.

Narges Mohammadi ganhou destaque após uma onda de protestos que abalou o país pela morte, sob custódia policial, de Mahsa Amini, de 22 anos, no ano passado. Amini foi detida pela polícia da moralidade por supostamente usar o hijab de forma inadequada.

Após o incidente, Mohammadi anunciou que não usaria o hijab em nenhuma circunstância. As autoridades prisionais, por sua vez, responderam negando a transferência da ativista para receber cuidados médicos urgentes. Segundo a família de Mohammadi, ela sofre de problemas cardíacos e pulmonares, e sua saúde e vida estão em risco. Vale ressaltar que a ativista está cumprindo penas de prisão que totalizam mais de 10 anos.

Diante dessa situação, um grupo de mulheres protestou durante dois dias e duas noites no pátio da prisão de Evin, em um esforço para que Mohammadi fosse levada para o hospital cardíaco. No entanto, o diretor da prisão informou que foi proibido de transferi-la sem o hijab, cancelando assim sua transferência.

Na última segunda-feira, uma equipe médica examinou Mohammadi e realizou um ecocardiograma dentro da prisão, uma vez que as autoridades se recusaram até mesmo a levá-la para a enfermaria sem o lenço na cabeça. O exame revelou duas veias bloqueadas e pressão pulmonar elevada, e a família afirma que a ativista precisa urgentemente de uma angiografia coronária e de um exame pulmonar.

Mohammadi se mostrou disposta a arriscar sua vida para não usar o hijab forçado, mesmo durante o tratamento médico. Em uma mensagem lida por sua filha e publicada no site oficial do Nobel, ela descreve o hijab obrigatório como uma forma de dominação e repressão na sociedade, cujo objetivo é perpetuar um governo religioso autoritário.

No decorrer de sua trajetória, Mohammadi denunciou as condições de vida dos prisioneiros no Irã em seu livro “White Torture” (“Tortura Branca”, em tradução literal) e foi presa por diversas vezes. Em maio de 2021, foi condenada a 80 chicotadas e 30 meses de detenção por “propaganda contra o sistema” e “rebelião” contra a autoridade prisional. Posteriormente, em janeiro de 2022, recebeu mais oito anos de prisão e 70 chicotadas.

A situação de Narges Mohammadi coloca em evidência as restrições impostas às mulheres no Irã e a luta constante pela igualdade de direitos, inclusive no acesso à saúde. A recusa das autoridades prisionais em fornecer a assistência médica necessária à ativista desencadeou uma onda de protestos por parte de ativistas e defensores dos direitos humanos em todo o mundo. A situação de Mohammadi reforça a importância de continuar a luta por liberdade, justiça e igualdade no Irã e em todos os lugares.

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