58 mortos e 118 pessoas sem reparação: Comunidade de Bento Rodrigues ainda aguarda reconstrução completa após o rompimento da barragem de Mariana.

Cerca de cinco anos após o rompimento da barragem em Mariana, Minas Gerais, a comunidade de Bento Rodrigues ainda luta para se reconstruir completamente. Infelizmente, 58 pessoas perderam a vida antes mesmo de verem sua comunidade ser reconstruída. Rodrigo Vieira, coordenador de projetos da Cáritas, entidade que presta assessoria técnica aos atingidos, destacou que muitos morreram sem receber a reparação necessária e que isso causou grande tristeza entre os habitantes da região.

De acordo com um levantamento da Cáritas, considerando também outras comunidades atingidas pelo desastre, um total de 118 pessoas morreram sem terem sido reparadas. Mônica dos Santos, uma das afetadas, expressou sua dor e questionou quando sua vida seria devolvida durante a Assembleia Geral Anual dos acionistas da BHP Billiton, uma das empresas responsáveis pela Samarco.

A assembleia, realizada recentemente em Adelaide, na Austrália, permitiu que os afetados pela tragédia compartilhassem suas perdas e exigissem uma reparação justa e integral da mineradora. Eles afirmaram que a BHP Billiton não divulga informações precisas sobre o estado da recuperação do ecossistema da região afetada.

Mônica dos Santos planejava protestar entregando aos executivos da BHP Billiton uma garrafa de lama e um cartaz com a foto das 19 pessoas que morreram diretamente em decorrência do rompimento da barragem. No entanto, ela foi impedida de se aproximar dos diretores da empresa. A BHP Billiton afirmou que não irá comentar a participação dos afetados na assembleia, mas está disposta a buscar soluções que garantam uma reparação integral.

Além de Mariana, várias outras cidades ao longo da Bacia do Rio Doce foram afetadas pela lama que vazou da barragem. Para reparar os danos, um acordo foi firmado entre o governo federal, os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo, a Samarco, e suas acionistas Vale e BHP Billiton. A Fundação Renova foi criada para gerenciar os programas de reparação, que estão sendo custeados pelas três mineradoras.

No entanto, o processo de reparação tem sido alvo de contestações e críticas. Os afetados decidiram buscar reparação no exterior e moveram um processo na Justiça inglesa contra a BHP Billiton. Cerca de 700 mil afetados, além de prefeituras, empresas e instituições religiosas, estão sendo representados pelo escritório Pogust Goodhead. As audiências para avaliar as responsabilidades pelo desastre estão marcadas para outubro de 2024.

De acordo com o relatório divulgado pelo escritório Pogust Goodhead, o valor da causa é estimado em 66 bilhões de libras esterlinas, o equivalente a cerca de R$ 230 bilhões. Os advogados também pedem juros calculados em 12% ao ano desde a data do desastre. As perdas listadas no processo incluem danos materiais, perda de propriedades e renda, impactos psicológicos e culturais, entre outros.

As comunidades de Bento Rodrigues e Paracatu também enfrentam dificuldades na reconstrução. Embora algumas casas já tenham sido entregues, há relatos de problemas na construção, conforme indicado pela Cáritas. A entidade também destaca a perda da soberania hídrica e alimentar nessas novas comunidades, uma vez que os afetados precisam arcar com o alto custo dos alimentos, cuja procedência e qualidade são duvidosas. Além disso, o acesso à água bruta não foi garantido, prejudicando o modo de vida das comunidades.

Diante desse cenário, os afetados continuam lutando por uma reparação justa e integral, tanto no Brasil quanto no exterior. A BHP Billiton, por sua vez, argumenta que já houve avanços significativos no pagamento de indenizações individuais no Brasil e que os tribunais brasileiros e a Fundação Renova estão acompanhando de perto o processo de reparação. A mineradora se recusa a comentar mais detalhes sobre o assunto.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo