Conflito no Oriente Médio revela termos específicos para pais que perdem filhos: ‘pai órfão’ e ‘órfã de uma criança’

As palavras não são suficientes para descrever a dor de um pai ou uma mãe que perdem um filho. É uma tristeza tão profunda e antinatural que não há termo específico para expressá-la, como há para órfão ou viúvo. No entanto, no atual conflito no Oriente Médio, há exceções a essa regra. Tanto no hebraico quanto no árabe, existem termos específicos para descrever a perda de uma criança.

Um exemplo desse drama é o caso de Thomas Hand, um israelense-irlandês que perdeu sua filha Emily, de 8 anos, durante um ataque do Hamas em um kibutz próximo à Faixa de Gaza. Quando recebeu a notícia da morte de sua filha, Thomas sentiu alívio, pois sabia que ela estaria em um lugar melhor do que sob o domínio do Hamas. Ele passou a ser chamado de “pai órfão” em hebraico, ou shakul.

Em outro lugar do mundo, em Chicago, Hanaan Shaheen, uma palestina que migrou para os Estados Unidos, perdeu seu filho Wadea, de 6 anos, em um ataque motivado por ódio religioso. Wadea foi esfaqueado várias vezes por Joseph Czuba, que gritava “Morte aos muçulmanos!”. Hanaan tornou-se uma “órfã de uma criança” em árabe, ou thaakil.

A diretora da agência do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Catherine Russell, ressaltou a gravidade das mortes de crianças palestinas e israelenses durante o conflito. Ela pediu o fim da violência e das violações cometidas contra as crianças.

A palavra “shakul” tem origem bíblica e é usada para descrever a perda de um ente querido em guerras ou situações semelhantes. Já a palavra “thaakil” não é tão comumente usada no Islã, pois não se busca aprofundar a ferida de alguém que perdeu uma criança.

Os linguistas também exploram a existência ou falta de palavras em diferentes línguas. Segundo o linguista Pablo Cavallero, todas as línguas têm palavras para nomear o que seus falantes precisam e querem dizer. A palavra “órfão”, por exemplo, pode ser aplicada tanto a alguém que perdeu um filho quanto a uma cidade que perdeu pessoas.

A ausência de um termo específico nas línguas latinas pode ser interpretada como uma tentativa de evitar falar sobre a experiência de perder um filho. No hebraico, a palavra “shakul” deriva do ramo de videira que não possui mais frutos, simbolizando o pai que perdeu seu filho.

Em meio a esse conflito devastador no Oriente Médio, fica claro que a dor da perda de uma criança é uma tragédia que afeta tanto os israelenses quanto os palestinos. É uma dor que transcende fronteiras e línguas, afetando pais e mães que se tornam órfãos de seus filhos. E essa dor deve ser reconhecida e respeitada por todos, independentemente da nacionalidade ou religião.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo