Brasil repatria cidadãos da Faixa de Gaza e especialistas consideram a ação uma vitória diplomática e um passo para uma postura mais firme contra Israel.

Especialistas da área de relações exteriores afirmam que o sucesso na operação de repatriação de 32 brasileiros da Faixa de Gaza é uma vitória diplomática para o Brasil. O grupo finalmente cruzou a fronteira com o Egito pelo Portal de Rafah no domingo pela manhã e deverá embarcar de volta ao Brasil no dia subsequente. Apesar da demora na inclusão da lista de pessoas autorizadas a deixar a região, a diplomacia brasileira demonstrou capacidade de negociação e coordenação na operação. O professor de Política Internacional e Comparada do programa de pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas (UFMG), Dawisson Belém Lopes, enfatizou que o retorno dos brasileiros representa a importância da diplomacia brasileira em questões internacionais.

Segundo Lopes, o retorno do grupo de brasileiros demonstra a capacidade e a importância do Brasil no cenário mundial, mesmo diante de um conflito de longa data entre Israel e a Palestina. Ele ressaltou que o Brasil conseguiu fazer valer o peso de sua tradição diplomática ao garantir a segurança dos cidadãos e trazê-los de volta ao país.

A demora na aprovação da inclusão dos brasileiros nas listas de autorizados a sair da Faixa de Gaza, em comparação com outras nacionalidades, gerou questionamentos em relação ao papel e ao comprometimento do Brasil na questão. O Brasil entrou somente na sétima lista divulgada para autorizar a saída de estrangeiros da região, o que gerou críticas. No entanto, a atuação do Itamaraty foi crucial para repatriar os brasileiros de forma eficaz.

Além disso, o episódio envolvendo o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, na reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro e parlamentares de direita, também provocou desgaste na relação entre os dois países. Segundo Lopes, a atitude do embaixador foi prejudicial para a relação diplomática entre Brasil e Israel, mas não acredita em ruptura nessa relação.

O monitor do Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do Brasil (Opeb), Bruno Fabrício da Silva, também destacou a importância e a eficácia da diplomacia brasileira na operação. Ele ressaltou o empenho do presidente e do corpo diplomático em negociações com as autoridades de Israel, Palestina e Egito para garantir a segurança dos brasileiros. Segundo ele, o Brasil deve adotar uma postura mais firme diante dos ataques de Israel, seguindo o exemplo de outros países sul-americanos que aumentaram o tom diplomático.

A professora de História Árabe da Universidade de São Paulo (USP), Arlene Elizabeth Clemesh, também defendeu uma postura mais enfática do Brasil na relação diplomática com Israel. Ela sugeriu a revogação de acordos militares e de segurança já firmados com Israel, caso o governo brasileiro não concorde com as práticas do país na região.

Em entrevista à imprensa, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, foi questionado sobre o episódio envolvendo Zonshine, mas não deu maiores esclarecimentos sobre o assunto. A relação entre os dois países após a repatriação dos brasileiros e o futuro da relação diplomática entre Brasil e Israel continuam sendo um ponto de discussão entre especialistas da área.

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