O líder da direita radical, Javier Milei, assume a presidência da Argentina em condições politicas desafiadoras.

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, será o primeiro a assumir o cargo sem estar ligado à política tradicional. Fundador do partido A Liberdade Avança, que surgiu em 2021 visando a lançar sua candidatura a deputado, Milei não tem apoio na liderança das províncias e cidades do país.

Suas bancadas na Câmara e no Senado serão minoritárias e qualquer projeto de lei exigirá negociações com diversos setores políticos, principalmente com a ala da aliança de centro-direita Juntos pela Mudança que o apoiou no segundo turno da eleição, liderada pelo ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) e pela ex-ministra Patricia Bullrich, terceira colocada no primeiro turno.

Apesar de ter concorrido em todas as eleições provinciais, o partido de Milei não conquistou vitórias regionais e mesmo nas 16 províncias onde foi o mais votado nas Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (Paso) de agosto, a legenda não conseguiu eleger candidatos majoritários.

Javier Milei ingressou na política há menos de três anos e a falta de estrutura política sólida ao seu redor é apontada como uma de suas principais fraquezas. Especialistas estão preocupados com sua capacidade de construir uma aliança política ampla que seja capaz de sustentar seu governo, especialmente num momento em que o país enfrenta graves problemas econômicos.

O novo Congresso argentino, que será empossado em dezembro, será o mais fragmentado desde 1983, com A Liberdade Avança rompendo o esquema bipartidário que vigorava há 40 anos.

Num cenário em que nenhuma aliança terá maioria, Milei precisará fechar acordos para obter votos suficientes para aprovar reformas. Ele já está negociando com a ala da Juntos pela Mudança, mas buscará aliados inclusive dentro do peronismo. Tudo dependerá do seu desempenho como presidente.

Durante a campanha, Milei demonstrou ter dificuldade em lidar com setores críticos do país. Sua aliança com Macri e Bullrich foi baseada em interesses puramente eleitorais, e o presidente eleito terá que construir uma aliança de governo efetiva.

A incerteza sobre o resultado dessas negociações é alimentada pela conhecida dificuldade de Milei em lidar com opiniões contrárias às suas. Durante a campanha, ele afirmou que, caso o Congresso não aprove seus projetos de reformas, recorreria a plebiscitos, embora a Constituição argentina não preveja essa utilização para implementar reformas econômicas, sociais ou de Estado. Essa questão deixa dúvidas sobre seu real comprometimento com as regras do sistema democrático do país e sobre a possibilidade de alternativas nunca antes usadas para compensar a falta de apoio institucional, sobretudo no Parlamento.

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