Eleito presidente da Argentina, Javier Milei planeja dolarizar a economia, mas experiência equatoriana e venezuelana trazem dúvidas sobre a medida.

O novo presidente eleito da Argentina, Javier Milei, propõe adotar a dolarização da economia do país como uma estratégia para combater a inflação, que atingiu mais de 100% nos últimos 12 meses. A ideia, porém, não é inovadora e tem precedentes na América Latina, onde, pelo menos em um caso, o resultado foi um aumento da pobreza, pouco crescimento econômico e até mesmo a facilitação do narcotráfico.

Daniel Noboa, presidente eleito do Equador, defende a dolarização da economia como um ponto pacífico entre a maior parte da população equatoriana. No entanto, a dolarização teve como efeito colateral a facilitação da lavagem de dinheiro proveniente do tráfico transnacional, de acordo com análises de especialistas. Além disso, a porcentagem de pessoas vivendo na pobreza aumentou gradativamente nos últimos anos nesse país.

Segundo o economista Alberto Acosta, 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do Equador, equivalente a 3,5 bilhões de dólares, provêm da lavagem de dinheiro do narcotráfico. Ele também aponta que a dolarização serviu para mascarar o desemprego e frear a indústria interna equatoriana. Ademais, o país, por estar localizado entre os dois maiores produtores de coca na região – Colômbia e Peru – transformou-se em um alvo para a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas.

Estudiosos ainda apontam que a dolarização do Equador foi justamente um dos fatores que acabaram favorecendo a nova configuração do tráfico na região, dificultando a investigação da origem do dinheiro. O aspecto social também foi afetado, com 5 milhões de pessoas vivendo com apenas US$ 3 por dia, e 2 milhões sobrevivendo com menos de US$ 1,70.

O exemplo do Equador serve para alertar sobre o impacto negativo da dolarização da economia, um modelo que também foi adotado em El Salvador, Panamá e Venezuela, entre outros países. Na Venezuela, por exemplo, a dolarização informal do país contribuiu para a saída da hiperinflação, mas a nação permanece com um dos maiores índices inflacionários do mundo.

Portanto, a experiência equatoriana e de outros países serve como lição para a Argentina, que já viveu uma situação ou modelo semelhante quando aderiu ao regime de conversibilidade com o dólar na década de 1990. Naquele momento, o câmbio fixo de um para um desencadeou crises futuras e desequilíbrios sociais e econômicos que ainda impactam a nação sul-americana. Então, será necessário avaliar as lições do passado para tomar decisões futuras quanto à estrutura econômica e monetária do país.

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