Impactos das ondas de calor extremo são mais sentidos por populações de áreas periféricas e negras, aponta estudo da UFF e da Associação de Pesquisa Iyaleta.

Os impactos de ondas de calor extremo são maiores em áreas periféricas e, em especial, para a população negra, que é predominantemente a mais afetada nas localidades. As considerações são do geógrafo Diosmar Filho, pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF) e coordenador científico da Associação de Pesquisa Iyaleta. Em entrevista, o geógrafo ressaltou que as áreas periféricas contam com infraestrutura e assistência à saúde, transporte, saneamento e moradia mais precária, o que tem impacto direto nos efeitos causados pelas mudanças climáticas, como, por exemplo, o aumento na temperatura durante ondas de calor.

Para comprovar sua tese, o pesquisador apontou que os bairros periféricos, que costumam ser mais densamente povoados e com menos áreas verdes, enfrentam problemas de abastecimento de água e energia elétrica. Além disso, áreas com pouco acesso à água de qualidade, como alguns bairros de Salvador, estão sujeitas a longos períodos de escassez no abastecimento.

Diosmar ainda discute a preocupação com a forma como a segregação racial nas cidades e a desigualdade urbana influenciam a maneira como as mudanças climáticas impactam as populações periféricas, e cita um estudo que mostra que as mulheres negras e homens negros de Cuiabá possuem a menor proporção de acesso a saneamento adequado comparado à população branca. Segundo ele, as ondas de calor e a falta de circulação de ar em áreas de baixo padrão urbanístico trazem impacto direto na saúde das pessoas.

Na cidade, por exemplo, a população negra foi a mais afetada pela alta incidência de arboviroses – dengue, zika e chikungunya, transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Casos de diagnóstico em mulheres e homens negros foram superiores aos de população branca. O geógrafo destaca a falta de saneamento como fator que influencia diretamente na transmissão dessas doenças.

Diante desse cenário, Diosmar enfatiza a importância de políticas públicas de arborização e políticas setoriais, territoriais e locais integradas, que visem melhorar a moradia, saneamento, saúde e educação nas regiões mais afetadas. Ele critica o modelo de moradia em áreas periféricas e faz um apelo por mudanças nesse sentido.

Segundo o estudioso, as mudanças climáticas já evidenciam a urgência de ações integradas em prol dessas populações mais impactadas por ondas de calor e demais eventos climáticos extremos. Afinal, é preciso não apenas lidar com as consequências imediatas, mas também planejar um futuro onde esses impactos sejam minimizados.

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