Angélica Ospina, autora da pesquisa, explicou em entrevista ao Globo que algumas mulheres entram para grupos criminosos porque eles oferecem a elas vingança depois de serem abusadas, algo que é difícil de se obter no sistema de justiça. Ela ressalta que a necessidade de proteção é muito importante, pois muitas mulheres se sentem cansadas de serem vitimizadas.
De acordo com o relatório “Parceiras no crime: a ascensão das mulheres nos grupos ilegais no México”, do International Crisis Group, o número de mulheres acusadas por delitos relacionados ao crime organizado subiu de 5,4% em 2017 para 7,5% em 2021. No entanto, a participação delas pode ser ainda maior, considerando que os carteis mexicanos chegam a recrutar quase 7 mil membros por ano e muitas sequer estão no radar das forças de segurança.
O estudo, feito a partir de entrevistas com mulheres que já foram ou são membros ativos de organizações criminosas, análise de dados do censo prisional e reportagens, mostra que elas ocupam diferentes posições dentro dos grupos, que vão desde o roubo de carros à gestão dos negócios. “Entrevistadas disseram que o furto de automóveis é um crime bem remunerado e flexível, que pode ser combinado com os cuidados dos filhos. Outras acabam como traficantes, supervisoras de redes locais de distribuição de drogas ou assassinas”, apontou o relatório.
Conforme a pesquisa, 66% das mulheres que já foram condenadas têm ao menos um filho, o que muitas vezes define sua atuação dentro dos carteis. Angélica Ospina destaca que é comum ver mulheres em posições de liderança em negócios que envolvem tráfico humano e lavagem de dinheiro. Há diversas vantagens para as organizações criminosas que as incorporam em suas atividades, como a “invisibilidade” para o poder público.
Por outro lado, a maternidade também é um complicador para as mulheres envolvidas em atividades criminosas. Quando tentam sair das organizações, as crianças são as primeiras a serem ameaçadas, e muitas vezes acabam ficando desamparadas e sendo recrutadas pelos carteis. O estudo destaca que a vulnerabilidade social e a violência são fatores que influenciam grande parte das mulheres a ingressar na vida do crime, com muitas delas tendo sido vítimas de abuso físico, emocional e/ou sexual na infância.
Além disso, a pesquisa ressalta que a inserção com o crime organizado começa ainda na adolescência, quando são aliciadas por parceiros românticos ou pessoas envolvidas com o tráfico de drogas. Com o tempo, elas acabam sendo treinadas a vender, roubar e atirar, se envolvendo em práticas cada vez mais violentas. É um ciclo difícil de quebrar, e um problema que requer um olhar cuidadoso para a abordagem e solução.