A medida, se aprovada, representaria um novo capítulo na longa e árdua repressão que a comunidade LGBT enfrenta na Rússia. Ativistas e artistas locais expressaram preocupação com a nova legislação, que pode restringir a liberdade de expressão e punir severamente indivíduos que fazem parte da comunidade LGBTQ+.
Uma das artistas afetadas por essa possível mudança é Saffron, uma jovem de 20 anos que se identifica como drag queen. Ela afirmou em entrevista à AFP que a proposta de proibição incutiu medo nela, mas que não desistirá apesar dos riscos. Segundo Saffron, os shows de drag são espaços importantes para que o público e os artistas possam explorar e refletir sobre suas vidas por meio da comédia e da tragédia.
A repressão à comunidade LGBT na Rússia não é um fenômeno recente. Nos últimos anos, o presidente Vladimir Putin tem pressionado os russos a aderirem a valores sociais conservadores, especialmente promovidos pela Igreja Ortodoxa. Desde 2013, os legisladores já proibiram o que eles classificam como relações “não tradicionais” com crianças, o que gerou um aumento na pressão sobre os setores mais liberais da sociedade.
A guinada conservadora no país se intensificou após a intervenção russa na Ucrânia em 2014. No ano passado, Putin ampliou a lei de 2013 para criminalizar qualquer menção pública positiva a pessoas ou relacionamentos LGBTQ. Em julho deste ano, os legisladores votaram a favor da proibição de intervenções médicas e procedimentos administrativos que permitiam às pessoas mudarem de gênero.
Diante desse cenário, os organizadores dos shows de drags estão tomando medidas extras para manter a comunidade segura, como não exibir a bandeira do arco-íris nos eventos e proibir o público de tirar fotos. Mesmo com a iminente ameaça de prisão, Saffron disse que não desistirá e manifestou sua vontade de continuar vivendo autenticamente, independentemente das circunstâncias.
A proposta de classificar o “movimento LGBT internacional” como uma organização extremista ainda precisa ser aprovada pelo Supremo Tribunal da Rússia, mas já gera apreensão e críticas de ativistas, artistas e membros da comunidade LGBT. A decisão final do tribunal terá grande impacto não apenas na Rússia, mas também poderá repercutir em outros países que também enfrentam desafios em relação aos direitos e à segurança da comunidade LGBT.