Comunidade muçulmana sofre com aumento da intolerância após ataque a Israel, revela Relatório de Islamofobia no Brasil.

Nos últimos anos, a comunidade muçulmana tem denunciado um aumento da intolerância e hostilidade, inclusive no Brasil, e o cenário não é diferente no que diz respeito ao período que sucedeu o ataque de outubro, ocorrido em Israel. Um levantamento realizado pelo Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes (Gracias), da USP, aponta que muitos muçulmanos já se sentiam ameaçados pela intolerância muito antes do evento e que as críticas contra a comunidade aumentaram ainda mais após o ataque.

A pesquisa, que contou com a participação de 310 pessoas, constatou que mais de um terço dos homens afirma que a intolerância já existia antes do ataque e quase metade considera que havia pouca intolerância. Entre as mulheres, os números são ainda mais alarmantes, com 45,1% delas afirmando que já havia muita intolerância antes do ataque. Com isso, 84% dos muçulmanos do gênero masculino e 94,6% das mulheres já identificavam atitudes de intolerância em relação à sua comunidade.

Para piorar a situação, mais da metade dos entrevistados acreditam que houve um aumento significativo da intolerância após o ataque. E não é difícil entender de onde vem tanta hostilidade. Segundo os pesquisadores, mais de 92% das mulheres e 88% dos homens entrevistados acreditam que a cobertura jornalística em torno do ataque colaborou muito para a intolerância.

Outro fator que agrava a situação é a confusão entre a caracterização de muçulmanos, árabes e palestinos, o que configura uma forma de orientalismo. Segundo a pesquisa, 85,6% dos homens e 88,5% das mulheres afirmam que as pessoas em geral não sabem fazer essa diferenciação corretamente.

A antropóloga e pesquisadora Francirosy Campos Barbosa, que coordena o Gracias, afirma que a comunidade islâmica ainda não está coletivamente preparada para enfrentar agressões nas redes sociais. E o impacto disso, aponta a pesquisadora, pode ser sentido não só nas redes, mas também nas ruas. No dia a dia, muitos muçulmanos passaram a adotar estratégias para se proteger, como mudar a escolha de vestimentas.

O uso do lenço islâmico, por exemplo, é uma tradição considerada uma forma de manifestar devoção a Deus, e a pesquisa do Gracias apurou que o evento de outubro fez com que pelo menos 26,4% das entrevistadas alterassem algo em suas roupas, contra 17% dos homens. Portanto, o impacto da intolerância e hostilidade contra a comunidade muçulmana já é visível e precisa ser combatido.

No entanto, é importante ressaltar que não são apenas os muçulmanos que sofrem com a intolerância. De acordo com a Confederação Israelita do Brasil (Conib) e a Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp), as denúncias de discriminação e violência contra judeus têm aumentado desde o ataque de outubro. Em outubro deste ano, foram registradas 46 denúncias, contra apenas 44 do ano anterior. Portanto, é essencial que atos de violência e discriminação sejam combatidos em todas as suas formas, independente da comunidade que esteja sendo alvo.

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